Família

Você tem filhos? leia isso!

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Emmir Nogueira

Jovens mães aflitas me têm procurado aos prantos, culpadas, acusadas, encurraladas, escravas, perdidas. “Não consigo!”, “Não dou conta!”, é o discurso unânime. De que não dão conta essas mãezinhas? O que as aflige? O que as faz chorar? Qual a acusação que as afoga em culpa? Que terror as tortura e escraviza?

Artificialismo! Teorias! Sim, teorias e mais teorias! Na melhor das intenções e em cumprimento fiel ao seu dever, pedagogos, psicólogos, pediatras, educadores disponibilizam toneladas de teorias sobre cada passo das crianças. Os profissionais desejam, é certo, instruir, orientar pais e mestres sobre educação de crianças e adolescentes. Nada contra, exceto por três fatos: a teoria não pode tornar-se tirania. Não deve, igualmente, tornar-se lei absoluta e impessoal, regra a ser seguida acima do discernimento e sabedoria dos pais. Acima de tudo há, na família equilibrada e, em especial naquela que busca viver o Evangelho, um maravilhoso mecanismo regulador de crises e promotor da autêntica educação que se chama relacionamento familiar sadio. Em outras palavras, a família sadia se auto-regula através de seus relacionamentos internos.

Quando vejo a enxurrada de teorias que pais e educadores se auto-impõem, fico a me perguntar se no passado as famílias não enfrentavam crises naturais de amadurecimento como ciúmes, invejas entre irmãos, regressões, crises da pré-adolescência e da adolescência, angústias infantis, pesadelos, insônia dos pimpolhos e consequentemente dos pais.

Fico a me questionar se todos os filhos comiam bem e em quantidade adequada, se havia álcool em gel à disposição e mesmo se existiam bactérias. Será que todos aprendiam tudo na escola no tempo adequado e do jeito que os outros aprendiam? Será que havia um perfeito e adequado controle da micção, da defecação? Que teorias regulamentavam tudo isso? A resposta me parece clara, embora simplória: as famílias se auto-regulavam por meio das relações interpessoais.

Pergunto-me em que base foram feitas as pesquisas que estabelecem “idades adequadas” para tudo o que se pode imaginar: mamar, sentar-se, nascerem os dentes, não mais fazer pipi ou cocô fora do aparelho, aprender a ler, a escrever, a contar, a traçar uma reta, a desenhar uma curva, somar, diminuir, dividir, multiplicar. Essas datas-limite enlouquecem os pais cujos filhos não correspondem ao prazo máximo. As primeiras pesquisas, estou certa, têm origem americana. Outras brasileiras as substituíram, certamente e, seguramente as adaptaram à nossa realidade sócio-cultural e, espera-se, têm base científica e isenta de ideologias.

Entretanto, talvez exatamente por teorizarem, deixam pouco espaço para a individualidade da criança e da família, pouco campo para a mobilidade e soberania dos pais e – desastre supremo! – caso estejam ligadas a ideologias podem mesmo chegar a apregoar a ingerência do Estado sobre a família, ainda que através da escola.

Não culpo, porém, nem as teorias, nem os pesquisadores. Aquelas cumprem seu dever de ser parâmetro para os educadores e pais. Esses correspondem solicita e dedicadamente à sua profissão. Ao observar a tirania da teoria sobre os jovens pais aflitos, só posso ressaltar o fenômeno da exacerbada auto-exigência de da felicidade perfeita para os filhos. Os pais, coitados, precisam funcionar como deuses. Tomam sobre si a carga absolutamente insuportável de garantir a felicidade dos filhos, coisa que só mesmo Deus pode fazer.

É preciso ressaltar também a descaracterização da família e o número ínfimo de filhos: o mínimo “necessário” para satisfazer o ego dos pais. Com famílias descaracterizadas e poucos filhos, ocorre o fenômeno de que esses são vistos como o centro da existência familiar. Manipulam os pais, que passam a obedecer-lhes servil e prontamente. Qualquer contrariedade os fará “infelizes” e os pais, escravos dos filhos, perdidos e sem autoridade, fazem-lhes todas as vontades gerando futuros inseguros incapazes de corresponder às exigências do amor que se doa, egoístas contumazes que teimam em fazer o mundo girar em torno a si.

Famílias descaracterizadas e com poucos filhos (o que, em alguns casos, dá mais ou menos na mesma coisa) tendem a perder plena capacidade da auto-regulação. Os relacionamentos são insatisfatórios e, portanto, insuficientes para a auto-regulação. Além disso, os pais interferem tanto no relacionamento dos filhos que lhes tiram a chance de amadurecer através de conclusões próprias retiradas da experiência relacional com os irmãos, primos, avós, amigos.

Resultado: a maioria das crises e necessidades não é resolvida de forma natural, em processo de amadurecimento com perdas e ganhos. Ficam reduzidas as chances de educação espontânea e experimentação típica de todo aprendizado. A regra é evitar perdas e frustrações a qualquer custo, incluindo o sacrifício e renúncia por amor ao outro.

Quanto aos ganhos, estarão longe de ser profundos, pessoais, resultados de uma maturidade natural. Tendem a ser “habilmente” promovidos e festejados pelos pais em um artificialismo estarrecedor. O resultado já é visível na geração de adolescentes que temos: elevada capacidade intelectual contrastante com superficialidade relacional, incapacidade para as renúncias do amor autêntico, psiquismo frágil, quebradiço.

Não há espaço para falar sobre o grande regulador das relações familiares e humanas em geral: o Evangelho. Fico devendo. Até que surja a oportunidade, rezo e torço para que as jovens mães aflitas descubram os imensos benefícios da vida familiar “natural”, livre das correntes da teoria, onde ganhar ou perder, “estar bem” ou não importam bem menos que amar e ser amado. Onde as teorias são bem vindas, mas tem seu lugar e perdem o estranho poder de tirania a elas atribuído.

Libertos da culpa, da escravidão auto-imposta, sem desprezar o ensinamento dos estudiosos, entendam os jovens pais que educar, por definição, é ajudar a “tirar de dentro”. É levar ao pleno desabrochar o filho amado de Deus a eles confiado para que o ensinem a amar, a ser amado, a vencer, pela fé e pela caridade, pelo relacionamento sadio e de intensa confiança, os desafios a eles reservados pela vida.

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Deus, Sexo e Bebês: O que a Igreja realmente ensina sobre paternidade responsável.

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Christopher West

Em minha experiência compartilhando os ensinamentos católicos sobre amor conjugal e sexualidade ao redor do mundo, uma coisa é certa: a confusão reina no que diz respeito ao ensinamento da Igreja sobre paternidade responsável.Talvez o principal problema seja a falha na compreensão total da diferença entre contracepção e abstinência periódica ou “planejamento familiar natural” (P.F.N.). Enquanto a contracepção nunca é compatível com uma visão autêntica de paternidade responsável, a Igreja ensina que o P.F.N. – dada a disposição adequada dos esposos – pode ser.

Como sempre é o caso, pensamentos equivocados surgem dos dois lados do espectro. A falha em distinguir entre contracepção e P.F.N. ocorre não somente entre aqueles que tendem a justificar a contracepção. Ela também ocorre entre os que pensam que qualquer tentativa de evitar ou espaçar os filhos seja um sinal de “fé fraca” ou “falta de confiança em Deus”. E há outro grupo de pessoas que aceitam a licitude do P.F.N. mas defende que deve-se haver uma razão séria o bastante para usá-lo.

Um livro bem extenso deveria ser escrito para falar sobre todos os pontos e contra-pontos válidos necessários para um exaustivo tratamento dessas questões. A meta deste artigo é simplesmente esboçar algumas das questões comuns no que diz respeito à paternidade responsável, esperando trazer algum equilíbrio à discussão.

Comecemos delineando a lógica interna da ética sexual da Igreja.

Amor Encarnado

João Paulo II escreveu na Familiaris Consortio que “a diferença antropológica e ao mesmo tempo moral, que existe entre a contracepção e o recurso aos ritmos temporais: trata-se de uma diferença bastante mais vasta e profunda de quanto habitualmente se possa pensar e que, em última análise, envolve duas concepções da pessoa e da sexualidade humana irredutíveis entre si”[1]. Em resumo, estas “duas concepções irredutíveis entre si” gira em torno de uma visão do amor “encarnado” contra uma visão do amor “des-encarnado”.

“Amai uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 15,12). Estas palavras de Cristo resumem o sentido da vida. Mas como é que Cristo nos ama? “Este é o meu corpo, que será entregue por vós” (Lc 22,19). O amor de Deus – uma realidade espiritual infinita – se fez carne em Jesus Cristo. Em outras palavras, o amor de Cristo é uma realidade encarnada e nós somos chamados a amar exatamente da mesma forma – com a doação sem reservas de nossos corpos.

De fato, o chamado espiritual a amar como Cristo ama está estampado bem nos nossos corpos enquanto homens e mulheres, o que João Paulo II chama de “o sentido nupcial do corpo”. O sentido nupcial do corpo é “a capacidade do corpo de expressar amor: precisamente aquele amor no qual a pessoa se torna um dom e – por meio desse dom – realiza o sentido completo de seu ser e de sua existência”[2].

Homem e mulher expressam esta dádiva corporal de inúmeras maneiras. Mas, como o Santo Padre expõe, esta dádiva “se torna mais evidente quando os esposos… a trazem através daquele encontro que os tornam ‘uma só carne’”[3]. E São Paulo descreve esta união em “uma só carne” como “um grande mistério” que de alguma maneira reflete, proclama e prefigura a união entre Cristo e a Igreja (cf. Ef 5,31-32).

Nenhuma dignidade ou honra maior poderia ser conferida à nossa sexualidade. Deus criou-nos homem e mulher e chamou-nos a “sermos fecundos e nos multiplicarmos” como um sinal de seu próprio mistério de amor vivificante no mundo. Além disso, se quisermos abraçar esta maravilhosa e sacramental visão da nossa sexualidade, precisamos também abraçar a responsabilidade que vem com ela.

Ética do Sinal

João Paulo II diz que nós “podemos falar sobre moral bem ou mal” no relacionamento sexual “de acordo com o quanto ele possui… ou não o caráter de verdadeiro sinal”[4]. Em resumo, nós somente precisamos fazer a seguinte pergunta: Seria um determinado comportamento, um autêntico sinal do amor divino ou não? A união sexual possui uma “linguagem profética” porque ela proclama o próprio mistério de Deus. Mas o Papa acrescenta que precisamos ser cuidadosos em distinguir entre verdadeiros e falsos profetas[5]. Se somos capazes de dizer a verdade com o corpo, também somos capazes de falar contra esta verdade.

A fim de serem “fiéis ao sinal”, os esposos precisam falar como Cristo fala. Cristo dá seu corpo livremente (“Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar”, Jo 10,18). Ele dá seu corpo sem reservas (“até o extremo os amou”, Jo 13,1). Ele dá seu corpo fielmente (“Eu estarei sempre convosco”, Mt 28,20). E ele dá seu corpo fecundamente (“Eu vim para que tenham vida”, Jo 10,10).

É com este amor que o casal se compromete no matrimônio. De pé ante o altar, o padre ou diácono pergunta a eles: “Vocês vieram aqui livremente e sem reservas para darem-se um ao outro em casamento? Vocês prometem ser fiéis até a morte? Vocês prometem receber com amor os filhos que Deus vos der?” Então, tendo concordado em amar como Cristo ama, o casal é destinado a encarnar tal amor em sua relação sexual. Em outras palavras, a união sexual é destinada a ser o lugar onde as palavras dos votos matrimoniais “se tornam carne”.

Quão saudável seria um casamento se os esposos, ao invés de encarnar seus votos, fossem regularmente infiéis aos mesmos, regularmente falando contra eles? Aqui reside a essência do mal da contracepção. O desejo de evitar uma gravidez (quando há razões suficientes para isso) não é o que corrompe o comportamento dos esposos. O que corrompe o sexo acompanhado de contracepção é a escolha específica de tornar estéril uma união potencialmente fértil. Isto torna o sinal do amor divino um “contra-sinal”.

O amor divino é generoso; ele gera. E, para tornar mais simples, é por isso que Deus nos deu genitais – para capacitar os esposos a refletir em seus corpos (a “encarnar”) uma versão terrena de seu amor livre, total, fiel e fecundo. Quando os esposos escolhem usar contracepção – isto é, quando eles adulteram voluntariamente o potencial criativo de sua união – eles se tornam “falsos profetas”. Seu ato sexual continua “falando”, mas ele nega o vivificante amor de Deus.

Amor Des-encarnado

“Pensar que estancar o livre fluxo dos meus fluidos corporais irá me impedir de amar minha esposa é ridículo”. Este sentimento – raivosamente expressado em uma carta que recebi – é um bom exemplo da visão “des-encarnada” do amor, usada para justificar a contracepção. Para este homem, o amor não é revelado no corpo (e seus fluidos), mas é algo puramente espiritual.

O conselho de São João vem à mente: Cuidado com aqueles “falsos profetas” que negam a encarnação (cf. 1Jo 4,1-3). Não se engane – a conclusão lógica é que a contracepção implica a aceitação de uma visão de mundo contrária ao mistério do Amor Encarnado, ou seja, o mistério de Cristo.

Aplicando a mesma visão “des-encarnada” de amor a Cristo, o que fazer do sangue de Cristo, por nós derramado na cruz e nos dado a beber na Eucaristia? Seria, esta visão de negação do “livre fluxo dos fluidos corporais”, a plena e definitiva realização do amor espiritual de Cristo por sua Igreja? Se Cristo tivesse hipoteticamente se recusado a derramar seu sangue numa suposta crucifixão, isto teria sido o suficiente? “Sem efusão de sangue não há perdão” (Hb 9,22). Similarmente, sem a efusão do sêmen, não há ato conjugal. O espírito é expressado no e através do corpo (e sim, através de seus fluidos também). Não há outra forma de expressar o espírito para nós, pessoas encarnadas. João Paulo II explica: “Como espírito encarnado, que é uma alma que expressa a si mesma em um corpo e um corpo movido por um espírito imortal, o homem é chamado a amar em sua totalidade unificada. O amor inclui o corpo humano, e o corpo é participante do amor espiritual”[6].

A relação que usa contracepção, somente pode expressar amor pela outra pessoa, se ela for uma pessoa des-encorporada. Este não é um amor pela outra pessoa condizente com a unidade entre corpo e alma desejada por Deus. Dessa forma, atacando o potencial procriativo do ato sexual, a relação que usa contracepção “falha também na tentativa de ser um ato de amor”[7].

Mantendo o Respeito pelo Amor Encarnado

Então, respeitar o “amor encarnado” significa que os casais devem ter todos os filhos que o acaso proporcionar? Não. Ao chamar os casais para um amor responsável, a Igreja os chama também para uma paternidade responsável.

O Papa Paulo VI declarou claramente que os casais devem “exercitar a paternidade responsável prudentemente e generosamente decidindo ter uma família numerosa, ou, por razões sérias e com o devido respeito à lei moral, escolhendo não ter mais filhos pelo resto da vida ou por um período indeterminado”[8]. Perceba que famílias numerosas devem resultar de uma reflexão prudente, e não do “acaso”. Note que os casais devem ter sérias razões para evitar a gravidez e devem respeito à lei moral.

Supondo que um casal tenha uma séria razão para evitar um filho, o que eles devem fazer para não violar a “ética do sinal”? Em outras palavras, o que eles poderiam fazer para evitar um filho sem que se tornassem infiéis a seus votos matrimoniais? Eu estou certo de que qualquer pessoa que esteja lendo este artigo está fazendo isso neste exato momento. Eles podem abster-se de sexo. A Igreja sempre ensinou, ensina e sempre ensinará que o único método de “controle de natalidade” que respeita a linguagem do amor divino é o “auto-controle”.

Surge uma nova questão: Estaria um casal invalidando de alguma forma sua união se eles se casarem sabendo que são naturalmente inférteis? Ou mesmo um casal que já tenha passado daquela idade em que a gravidez seja impossível. Eles sabem que sua união não resultará em filhos. Será que eles estariam violando “o sinal” por manterem relação sabendo disso? Esta não seria uma atitude contraceptiva? Não. Nem eles, e nem os casais que usam o P.F.N. para evitar um filho. Eles seguem sua fertilidade, se abstêm quando estão férteis e, se assim desejarem, têm relações quando estão naturalmente inférteis. (Para os leitores desinformados, eu devo acrescentar que os métodos modernos de P.F.N. têm de 98 a 99% de sucesso ao evitar gravidez quando usados corretamente. E eles nada têm a ver com o método da “tabelinha” que sua avó usava.)

As pessoas certamente irão retrucar: “Fala sério! Você é detalhista! Qual é a grande diferença entre esterilizar voluntariamente a relação sexual, e esperar até que ela esteja naturalmente infértil? O resultado final será sempre o mesmo”. A estes eu respondo: Qual é a grande diferença entre um aborto espontâneo e um aborto voluntário? O resultado final é sempre o mesmo. Um, entretanto, é um “ato de Deus”. E no outro o homem toma o poder da vida em suas próprias mãos e se coloca no lugar de Deus (cf. Gn 3,5).

A diferença, como já citamos João Paulo II, “é muito mais ampla e profunda do que comumente se supõe”. Na verdade, a diferença é cósmica. O P.F.N. capacita o casal a manter o respeito pelo amor encarnado. Este respeito é a verdadeira razão de ser do P.F.N. A contracepção “des-encarna” o amor e, fazendo isso, “violenta a própria criação de Deus no nível da mais profunda interação entre a natureza e a pessoa”[9].

Confiando na Providência

Pois bem, o que constitui uma “razão séria” para evitar um filho? É aí que a discussão normalmente esquenta. O pensamento correto (ortodoxo) sobre o problema da paternidade responsável, como sobre qualquer problema, é uma questão de manter importantes distinções e equilibrar cuidadosamente várias verdades. Ignorar isso leva a erros nos dois extremos.

Um exemplo de tal erro é a “hiperbólica” noção de que se os casais realmente confiam na providência divina, eles jamais buscarão formas de evitar um filho. Este simplesmente não é o ensinamento da Igreja. Como Karol Wojtyla (nome de batismo de João Paulo II) observou, em alguns casos “o aumento no tamanho da família seria incompatível com o cargo de pais”[10]. Por isso, como ele também afirmou, evitar filhos “em certas circunstâncias pode ser permitido ou mesmo obrigatório”[11].

Nós estamos certos em confiar na providência divina. Mas esta importante verdade precisa estar equilibrada com outra importante verdade, se quisermos evitar o erro de um certo “providencialismo”. Quando Satanás tentou Cristo a saltar do templo, ele estava certo ao dizer que Deus tomaria providências em seu benefício. Satanás estava na verdade citando as próprias Escrituras! Mas Cristo respondeu com outra verdade, também das Escrituras: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (cf. Lc 4,9-12).

Um casal que trabalhe para sustentar seus filhos, da mesma forma, não deve tentar Deus. Hoje em dia, o conhecimento do ciclo fértil é parte da providência de Deus. Assim, os casais que responsavelmente usam este conhecimento para evitar a gravidez, estão confiando na providência de Deus. Estes casais, não menos do que os que “prudentemente e generosamente decidem ter uma família numerosa”[12] estão praticando a paternidade responsável.

Egoísmo: o Inimigo da Paternidade Responsável

É claro que, como todas as coisas boas, o P.F.N. pode ser abusado. O egoísmo, inimigo do amor, é também inimigo da paternidade responsável. Está claro nos ensinamentos da Igreja que razões insignificantes não são desculpas para se evitar filhos. E nem os esposos precisam passar por uma situação de “vida e morte” antes de fazerem uso do P.F.N.

O Vaticano II ensina que, ao determinar o tamanho da família, os pais devem “atenciosamente levar em consideração seu próprio bem-estar, bem como o de seus filhos já nascidos e daqueles que o futuro poderá trazer”. Eles devem “calcular as condições materiais e espirituais, e também seu estado de vida. Finalmente, eles devem consultar os interesses do grupo familiar, da sociedade, e da própria Igreja”[13]. A respeito da questão de limitar o tamanho da família, a Humanae Vitae ensina que “motivos razoáveis para espaçar os nascimentos” podem surgir “das condições físicas ou psicológicas do marido ou da esposa, ou de circunstâncias externas”[14].

A orientação da Igreja é propositalmente ampla, tolerante. Seguindo a orientação da Igreja, eu não pretendo dizer coisas muito além disso. É o dever de cada casal aplicar estes princípios básicos em suas situações particulares. Dilemas morais são muito “fáceis” de se resolver quando outros estabelecem os limites para nós, mas, como o Vaticano II diz: “Os próprios pais, e ninguém mais, devem, em última instância, fazer este julgamento, sem perder Deus de vista”[15]. João Paulo II acrescenta que esta questão é “de particular importância para determinar… o caráter moral da ‘paternidade responsável’”[16].

Por essa razão, a idéia surpreendentemente difundida de que um casal precisa obter “permissão” de um padre para evitar gravidez, não é somente falsa, mas evidencia uma séria confusão acerca da natureza da responsabilidade moral. Se um casal está em dúvida quanto às suas razões, é certamente recomendável procurar um sábio aconselhamento. Mas a Igreja coloca a responsabilidade da decisão, de forma muito justa, nos ombros do casal. Se os esposos escolhem limitar o tamanho da família, o Catecismo somente ensina que “é responsabilidade deles ter a certeza de que seu desejo não é motivado por egoísmo, mas está em conformidade com a generosidade que é apropriada à paternidade responsável”[17].

Neste ponto, há outra forma de egoísmo sutil e menos discutido que conflita com a paternidade responsável. Certa vez eu aconselhei um casal que teve vários filhos muito próximos entre si. Os pais reconheciam corretamente cada filho como uma graça divina e faziam tudo que podiam para amá-los e cuidar deles. Entretanto, a mãe, emocionalmente esgotada desde o terceiro filho, desejava um espaçamento maior entre os bebês desde então. Isto trouxe à luz que a razão pela qual eles não espaçaram seus filhos foi porque o marido egoísticamente não quis (ou não conseguia) se abster.

Aqui, o que, visto superficialmente, pode passar como uma resposta generosa ao ensinamento da Igreja, quando visto mais de perto, na verdade, demonstra uma falha na vivência do ensinamento da Igreja. O ponto é que, a fim de que a paternidade seja “responsável”, a decisão de evitar a união sexual durante o período fértil ou a decisão de se entregar à união sexual durante o período fértil não pode ser motivada pelo egoísmo.

Matar ou Morrer: Uma Analogia

A seguinte analogia pode ajudar a resumir não somente a importante distinção moral entre contracepção e P.F.N., mas também a necessária atitude moral que deve acompanhar o uso responsável do P.F.N.

Nossa atitude natural para com os outros, deve ser aquela que deseja a integridade da vida e da saúde dos outros. Entretanto, as circunstâncias podem nos levar a desejar honestamente que Deus chame alguém para a Vida Eterna. Suponha que um parente idoso esteja sofrendo muito pela idade e pelas enfermidades que normalmente a acompanham. Você pode ter o nobre desejo de que ele descanse na morte. Igualmente, uma atitude natural do casal deve ser a de desejar filhos. As circunstâncias, entretanto, podem levar um casal a ter o nobre desejo de evitar uma gravidez.

No caso do parente idoso, uma coisa é sofrer junto com ele durante sua espera paciente por sua morte natural. Nesta situação não haverá nada de censurável na atitude de ser grato à Deus por sua morte, quando ela ocorrer. Mas é uma coisa completamente diferente tomar o poder da vida em suas próprias mãos e matá-la só porque você não consegue suportar seus sofrimentos.

Da mesma forma, para o casal que possui o nobre desejo de evitar a gravidez, não há nada censurável em esperar pacientemente pelo período natural de infertilidade, ou mesmo de ser grato a Deus por ter concedido que esse período de infertilidade existisse. Mas uma coisa completamente diferente é o casal tomar o poder da vida em suas próprias mãos e se fazerem artificialmente estéreis porque não conseguem suportar a abstinência.

A propósito da atitude, é também possível que o seu desejo de ver teu parente morto possa ser maldoso. Você pode ter algum tipo de ódio por ele que pode levar você a desejar sua morte. Você não pode matá-lo, no entando ele pode morrer de causas naturais. Não obstante, se você se alegrar com sua morte, isto seria censurável. De forma semelhante ao casal que usa o P.F.N. com um maldoso desejo de evitar uma gravidez. Sua alegria no período infértil seria também algo censurável, porque é motivada por uma mentalidade egoísta de rejeitar filhos.

Concluindo

Neste pequeno artigo, tentei resumir a lógica básica da ética sexual católica, com a esperança de trazer algum equilíbrio à discussão sobre a paternidade responsável.

Em contraste com a visão “desencarnada” do amor, tão disseminada no mundo, a Igreja ensina que a matéria, a carne, deve ser levada em consideração. O que fazemos com nossos corpos expressa nossas convicções mais profundas sobre nós mesmos, sobre Deus, sobre o sentido do amor, e sobre as regras do universo. Quando se leva a sério a visão sacramental do corpo proposta pela Igreja, compreendemos que a união sexual não é somente um processo biológico, mas um processo profundamente teológico – “um grande mistério que diz respeito a Cristo e à Igreja” (Ef 5,31-32).

O bem equilibrado ensinamento da Igreja a respeito da paternidade responsável é um presente divino, dado para proteger o supremo valor deste sinal. Desequilíbrios nos dois extremos devem ser evitados, se quisermos nos manter fiéis ao sinal do amor matrimonial e deixar sempre clara a proclamação do mistério divino no mundo.

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[1] Familiaris Consortio, n. 32
[2] Teologia do Corpo, 16 de janeiro de 1980
[3] Carta às Famílias, n. 12
[4] Teologia do Corpo, 27 de agosto de 1980
[5] Cf. Teologia do Corpo, 26 de janeiro de 1983
[6] Familiaris Consortio, n. 11
[7] Teologia do Corpo, 22 de agosto de 1984
[8] Humanae Vitae, n. 10
[9] Familiaris Consortio, n. 32
[10] Love & Responsability, p. 243
[11] Person & Community: Selected Essays, p. 293
[12] Humanae Vitae, n. 10
[13] Gaudium et Spes, n. 50
[14] Humanae Vitae, n. 16
[15] Gaudium et Spes, n. 50
[16] Teologia do Corpo, 01 de agosto de 1984
[17] Catecismo da Igreja Católica, §2368 (ênfase acrescentada)

Tradução e revisão: Fabrício L. Ribeiro

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Qual é a importância da presença do pai na formação dos filhos?

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Primeiro que tudo, o papel de um pai na família foi dada por Deus, mas à medida que a sociedade se torna mais ateísta, as familias têm sido redefinidas de forma a tornar o papel do pai num papel sem importância ou desnecessária. Numerosos estudos têm mostrado as consequências disto.

Entre 1960 e 1990 (nos EUA) a percentagem de crianças a viver longe do pai duplicou para 36%. Estudos mostram que é pior para a criança perder o pai devido a um divórcio do que perder o pai devido a um falecimento.

A falta de um pai é um dos fatores contributivos para o início prematuro da atividade sexual. O suicídio juvenil, que tem uma taxa mais elevada num lar sem um pai, triplicou desde 1960.
Estudos sobre a performance estudantil mostra que os resultados decresceram em 75 pontos desde 1960. Esta queda está ligada à falta de um pai em casa.


Rapazes criados sem um pai são mais susceptíveis de ter problemas com as autoridades. Isto talvez explique o porquê dos afro-americanos estarem disproporcionadamente representados em taxas de crimes nos EUA: a maioria dos afro-americanos cresce em lares onde o pai é uma figura ausente. Quando se comparam estes dados com os euro-americanos que cresceram sem um pai, a taxa de criminalidade é semelhante. Isto mostra a importância de um pai na família.


De acordo com vários estudos, crianças sem um pai são mais susceptívis de serem vítimas de abuso infantil.

Um estudo que demorou 26 anos a estar completo mostrou que um dos fatores mais importantes para a criança desenvolver empatia é o envolvimento paterno na família.


Um outro estudo mostrou que 90% das crianças que frequentam a igreja com os pais permanecem ativamente envolvidos, Se nenhum dos pais vai à igreja juntamente com eles, apenas 40% permanecem fiéis. Se apenas o pai vai com a criança à igreja, 80% permanece fiél.


Conclusão: O design para o casamento ideial como Deus sempre quis (um homem + uma mulher) tem uma importância fulcral para o desenvolvimento da criança. O homem, na sua tradicional folia de querer fazer as coisas à sua maneira, acha que o casamento pode ser um homem com outro homem, ou uma mulher com outra mulher, ou mesmo um homem com mais do que uma mulher. Outros acham que o pai não é importante para o desenvolvimento social da criança.

As prisões um pouco por todo o mundo dizem o contrário.
Temos que admitir que nós não podemos melhorar o design original imposto por Deus para um casamento funcional.

Fonte: Blog Carmadélio

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Você conhece os “pais” do Aborto?

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Apresentado como o grande bem da história da humanidade, o aborto foi pela primeira vez legalizado graças a “duas grandes figuras modernas”, verdadeiros símbolos do “progresso e da justiça”: Hitler e Lenine (Lenin). Desde aí, esta “conquista do povo” foi ganhando lugar nas legislações de outros estados, através principalmente de mentiras, falsificações e manipulações.

Um dos truques retóricos preferidos dos publicistas de esquerda é a comparação com Hitler, reductio ad Hitlerorum. Na discussão sobre o aborto é usado com frequência: aparece sempre alguém a lembrar que a Alemanha nacional-socialista considerava o aborto um inimigo da fecundidade ariana e premiava as mães alemãs de filhos numerosos, reprodutoras heróicas da raça superior. O que não se diz é que a Alemanha de Adolf Hitler foi o segundo estado no mundo que legalizou o aborto – nas nações ocupadas pelos alemães. O próprio Hitler sublinhou que “face à existência de famílias numerosas na população nativa, é para nós muito vantajoso que as  mulheres façam o maior número de abortos possível”, ameaçando fuzilar “o idiota que quisesse introduzir legislação proibitiva do aborto nos territórios ocupados de leste”. E Martin Borman acrescentava que “a fecundidade dos eslavos é indesejável. Que usem preservativos ou raspagens – quanto mais, melhor”.

Mas o primeiro estado do mundo a liberalizar o aborto foi a União Soviética de Vladimir Lenine, em 1920. Apresentado como o grande bem da história da humanidade, o aborto foi, portanto, pela primeira vez legalizado graças a estas “duas grandes figuras modernas”, verdadeiros símbolos do “progresso e da justiça”: Hitler e Lenine. Desde aí, esta “conquista do povo” foi ganhando lugar nas legislações de outros estados, através principalmente de mentiras, falsificações e manipulações.

Hoje é curioso observar como em alguns países a legislação apresenta verdadeiros híbridos jurídicos nesta matéria: a criança concebida e não nascida é, por um lado, sujeito legal (pode, por exemplo, herdar, ou tem direito a indmenização caso lhe seja provocada deficiência durante a vida embrionária), e por outro é permitido tirar-lhe a vida, subtraindo-a para isso à proteção da lei.

O artigo primeiro da lei de Veil-Pelletier, que legaliza em França o aborto, diz: “A lei garante o respeito por cada pessoa humana desde o início da vida. A excepção a este princípio pode unicamente justificar-se nos casos últimos definidos neste decreto-lei”. Algo de semelhante é enunciado no decreto-lei 194, que permite na Itália o aborto. Na Alemanha, a lei de 1975 declara defender a vida dos não-nascidos, mas abre excepções a essa regra.

Os responsáveis pelos textos destas leis não põem em questão, portanto, que a criança concebida é um ser humano. Não se discute se no ventre da mãe é um homem, mas sim se tem – e em que casos – direito a viver…

O juiz Harry Blackman, do Supremo Tribunal dos USA, expôs em 1973 esta contradição com alguma sinceridade. A sentença pronunciada por ele e outros juízes no caso Roe contra Wade deu início à liberalização do aborto nos USA. Blackman reconheceu que, para escolher o momento até ao qual fazer um aborto não incorre em pena, há que arbitrariamente determinar um meio termo entre o direito da mulher a decidir e o direito da criança à vida. Tendo, portanto, diante de si o direito a matar, por um lado, e o direito a viver, o juiz indicou o período até à 18ª semana de gravidez como aquele durante o qual é permitido tirar a vida à criança no ventre materno.

Esta foi uma decisão tomada não só contra a ciência (que demonstra ter a vida humana início com a concepção) e contra a própria lei (que trata a criança não-nascida como sujeito de direito), mas também contra toda a tradição da civilização ocidental (que rejeita o argumento do conflito de valores quando em questão está a vida humana, pois o direito à vida é considerado valor maior face a qualquer outro direito).

Catorze anos depois da sentença do Supremo Tribunal dos USA no caso Roe contra Wade, Jane Roe, que sob juramento tinha afirmado ter sido vítima de uma violação, revelou ter mentido. Uma prática comum na história agitada da luta pela liberalização do aborto em vários países.

O Dr. Bernard Nathanson, que chefiou desde a sua criação em 1968 a maior organização americana pró-liberalização do aborto, a NARAL, conta hoje como os ativistas pró-aborto falsificavam os resultados das sondagens e os dados sobre os abortos ilegais praticados (de cem mil para um milhão). Numa campanha feita de mentiras, fizeram subir o número de anual de mulheres vítimas de abortos ilegais de 200 para 10 mil. O mesmo aconteceu noutros países: na Alemanha, os índices de mortalidade de mulheres em abortos ilegais foram de tal modo aumentados que ultrapassaram os números relativos a toda a mortalidade de mulheres em idade reprodutora.

O agnóstico Norberto Bobbio, que votou no referendo italiano contra a liberalização do aborto, explicava que o mandamento “não matarás” é para um humanista laico um imperativo categórico, de carácter absoluto e universal. E acrescentava não compreender que os não crentes deixassem aos crentes o privilégio e a honra de defender o direito à vida.

Fonte: A Aldeia

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O fascinante mundo dos bebês no útero das mães contrasta com o mundo trágico e egoísta dos abortistas.

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Uma interessante entrevista com Dr. José Raimundo Lippi . O entrevistado é professor de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Departamento de Psiquiatria e Neurologia da UFMG .

Jornal Estado de Minas

“EM- Existe mesmo uma comunicação do feto com sua mãe? Porque a gente já ouvia falar nisso como algo esotérico, místico. Hoje a ciência já pode comprovar esta comunicação?

Raimundo- Pode e eu posso citar nomes de cientistas e de laboratórios onde isto vem sendo comprovado. Na verdade, há mais de mil anos, a China organizou suas clínicas pré-natais porque acreditava-se que as crianças, dentro do útero, sofriam influências da mãe. Muitas coisas viraram mito, como por exemplo mulheres grávidas não poderem levar sustos, não poderem se aproximar do fogo etc. Se formos percorrer a Bíblia ou os livros de Hipócrates, já se falava em uma vida intra-uterina. Quem falou disso primeiro, com muita certeza, foi um artista, Leonardo da Vinci, em cujos escritos estão: “Uma mesma alma governa dois corpos. As coisas que a mãe deseja imprime-se na criança que ela traz no útero. Todo querer, todo desejo supremo da mãe, toda dor, todo medo, pode atingir poderosamente a criança e, ás vezes, mata-la”. Isto Leonardo da Vinci falou a quatro séculos.

EM- Mas ele falou por intuição, sem base científica. Como é que a ciência comprova esta comunicação da mãe com o feto?

Raimundo – Nas décadas de 40 e 50, cientistas afirmavam que as emoções sentidas pela mãe repercutiam sobre a criança que ela carregava. Podemos citar o exemplo de David Winnicott, da Universidade de Londres; Igor Caruzo, da Universidade de Salsburgo; Lester Sotang, dos Estados Unidos; Frederick Kruse, da Alemanha e Hans Graber, da Suíça. Somente em meados dos anos 60 é que a tecnologia médica permitiu comprovar muitas destas intuições. Neurologistas como Dominick Púrpura, da Faculdade de Medicina Albert Einstein de Nova York; Maria Salam e Richard Adams têm provas fisiológicas sólidas e irrefutáveis de que o feto é um ser capaz de reações auditivas, sensoriais e afetivas. E foi a partir daí que começou a surgir a Psicologia Pré-natal.

EM – È este o nome que se dá a esta área?

Raimundo – Sim. È psicologia Pré-natal. Os nascituros, após esta ciência, passaram a ser compreendidos como muito mais avançados.
Por exemplo: com cinco semanas, eles têm ações reflexas muito mais complexas que podem ser vistas através de filmes. Com oito semanas, o feto tem uma linguagem gestual, ele fala com o corpo, mexe com facilidade com a cabeça, os braços, as costas e já utiliza isto como uma linguagem. Ele mostra aversão ou prazer a alguma coisa. Sabe-se que ele detesta ser manipulado. Com dez semanas mais ou menos, o feto se encolhe quando apertamos o estômago da mãe ou quando beliscamos a barriga dela. Outra coisa interessante: Por que é que se percebe, ás vezes, que um bebê é um pouco agitado á noite, depois de nascido? Porque ele viveu uma experiência dentro do útero, quando a mãe, nos últimos meses, torna-se agitada, com dores nas costas e nas pernas, com azia e dorme mal, movimentando-se muito…

EM – Eu queria saber se o feto pensa.

Raimundo – Primeiro é preciso saber o que é pensar. O pensamento varia de acordo com as etapas de desenvolvimento cognitivo. Uma criança de seis anos não pensa como eu penso. Nós já somos capazes de formar hipóteses e projetar, deduzir coisas. O pensar exige um sistema nervoso em desenvolvimento. E isto faz com que alguns pesquisadores digam que o feto não pode pensar. Mas ele pensa sim, com os recursos que ele tem.

EM – Este pensar do feto não é algo mais ou menos misturado com o sentir?

Raimundo – Exatamente. È uma generalização de sentimentos que envolve todo o corpo, que está muito impregnado das emoções da mãe. O que se afirma é que, a partir dos seis meses, ele pensa, tem reações de alegria, de tristeza. Aos quatro meses, o corpo fala sob a hegemonia da face, ele já levanta as sombrancelhas, repuxa os olhos, faz caretas, pisca, franze os lábios. Aos seis meses ele alcança a sensibilidade de uma criança de um ano de idade. Nesta fase o feto tem também paladar. Sabe-se que o líquido aminiótico é pouco doce. Se você colocar sacarina nele, o bebê adora e deglute vorazmente. Se você colocar sabores desagradáveis, ele pára de digerir e gesticula.

EM – Eu estou pensando aqui que este estudo vai mudar muito as opiniões em relação aos abortos, não é?

Raimundo – Vai mudar sim. A concepção do ser humano deve mudar muito nos próximos anos porque a sociedade é muito ciosa de que precisa de provas e documentos para dizer o que é verdade, senão fica no plano da intuição. Embora saibamos que os idealistas foram os grandes responsáveis pelo crescimento da ciência. Só para completar, é preciso dizer que , aos seis meses, a criança tem uma sensibilidade muito grande em relação aos barulhos…

EM – Pelo que você está me falando, toda esta comunicação se dá através da mãe, não é? Ele ouve, sente, percebe, pela mãe. Eu ouvi outro dia um psicólogo desta mesma área dizer que até o pai que o bebê sente e percebe quando está dentro do útero, é aquele que a mãe percebe e vê. A mãe é o veículo, ela passa para o filho o pai que ela enxerga. Não é muito grande a responsabilidade da mãe?

Raimundo – É sim, é muito grande. Mas é o preço que se paga por ser mulher e de ter o primeiro universo do homem que é o útero. Podemos afirmar hoje, sem medo, que muitas das experiências vividas dentro do útero são passadas para o individuo. Já se pode afirmar hoje: Bebê feliz, adulto sadio. Não é possível ser um adulto sadio se ele não passou por uma gestação feliz. Aliás, ele pode até alcançar o equilíbrio, a saúde, mas terá que trabalhar muito para isso. Voltando á mãe, ela é a transportadora das emoções que ela viveu com o pai. Se ela é amada pelo companheiro, se ele lhe dá segurança, o bebê, já dentro do útero, começa a levar uma vida saudável. Já gravaram vozes de pais que costumavam falar com seus filhos ainda na barriga da mãe. Ficou comprovado depois que, após o nascimento, os pais são reconhecidos por seus filhos e se acalmam com a sua voz.

Em – O que é que o bebê já nasce sabendo?

Raimundo – Com toda a certeza , ele já nasce sabendo se é amado ou rejeitado. Eu quero falar de um aspecto fundamental que tem a ver com este amar. Eu falei no barulho e é preciso dizer que o útero é muito barulhento: o som da barriga , o som da casa. Mas há um som especial que é a batida do coração da mãe e que tem a ver com as emoções dela. Um coração batendo regularmente é calmo, faz o bebê se sentir seguro. O ritmo cardíaco é muita responsabilidade da mãe porque é transmitido ao bebê durante os nove meses. Já fizeram experiência colocando uma fita gravada com o coração de uma mãe batendo em um berçário. Os bebês dormiram melhor, ficaram mais calmos, sorriram. Outra experiência: o maestro canadense Boris Brott, ao ser entrevistado certa vez, disse que seu amor pela música nasceu quando ele ainda estava no útero da mãe. E confessou que, muitas vezes, ao executar uma peça pela primeira vez, era capaz de antecipar determinadas notas antes de virar a página. E que havia descoberto que estas peças eram tocadas pela sua mãe violoncelista quando estava grávida dele.

Em – Do que é que o bebê se lembra depois que nasce?

Raimundo - A memória, segundo Elias Canetti, um neurofisiologista de Milão, começa a partir do terceiro mês de gestação. O doutor Púrpura, que é editor de uma revista sobre o desenvolvimento cerebral, diz que as lembranças têm a ver com o que a mulher viveu e o que o bebê pôde viver. Você falou aí em amor. Como amar se ele não tiver sido amado? Nos Estados Unidos foi feita uma pesquisa onde mais de 500 mulheres que faziam pré-natal, de nível universitário, e eram bem alimentadas. Fizeram a elas a seguinte pergunta: O que você mais pensa neste momento da sua vida? Para surpresa dos pesquisadores, mais de um terço delas não pensavam em seus bebês. A partir desta pesquisa foram pesquisar bebês de mulheres esquizofrênicas e chegaram á conclusão de que os filhos delas têm o desenvolvimento físico, mental e intelectual danificado.

EM – É mais ou menos natural que mulheres e homens idealizem seus filhos. Isto é saudável ou pode prejudicar a criança?

Raimundo – Não existe um ser humano que não idealize seu filho. O filho já existe na imaginação de todo mundo, até antes da concepção. È saudável idealizar. Esta sensação de que o desejamos é levada até ele.

EM – Mas e quando o filho que nasce não corresponde ao filho idealizado?

Raimundo – Acontece a frustração e isto é natural. Vou te falar de uma outra experiência para mostrar como o bebê tem consciência do pensar e do sentir da mãe…

Em – Você disse do pensar? Quer dizer que, quando estou grávida, meu bebê sabe o que estou pensando? Como é que isto acontece?

Raimundo – Sim, claro. Duas pesquisas importantes foram feitas. Uma delas é da professora Mônica Luckesh, da Universidade de Frankfurt. Ela entrevistou e examinou 2000 mulheres. E a conclusão a que ela chegou é que a atitude da mãe tem uma importância primordial sobre o ser que vai nascer. As mães que rejeitavam colocaram no mundo crianças inseguras, frágeis do ponto de vista físico e emocional. Ela acompanhou estas crianças por longo tempo. Os filhos de mães que rejeitam os bebês adoecem mais.

Outra pesquisa é do doutor Gerald Rotmann, da Áustria. Ele examinou e entrevistou 141 mulheres grávidas e as dividiu em quatro categorias em função da atitude delas diante da gravidez. Num grupo, ficaram as mães ideais, as que revelaram desejar seu bebê conscientemente e inconscientemente. Os partos delas foram os mais tranquilos e os bebês saudáveis. No lado oposto, ele compôs o grupo que chamou de mães catastróficas, aquelas que rejeitavam claramente seus filhos. Eles tiveram sérios problemas durante a gravidez, registraram o maior número de abortos e pré-maturos e tiveram filhos com problemas emocionais. O mais interessante foram os grupos intermediários, um dos quais ele denominou de mães ambivalentes. Elas proclamavam com alegria estarem grávidas mas, no fundo, não desejavam a criança. Este sentimento inconsciente de rejeição não enganou os filhos que também nasceram com problemas…

EM – Este desejo que você chama de inconsciente seria o pensamento da mãe? Seria o caso da mãe que está preparando o quartinho, comprando o bercinho e, no seu íntimo, pensando: este Bebê vai atrapalhar a minha vida? È isso?

Raimundo – É exatamente aí que entra o cognitivo, o conhecimento das coisas. Não se engana um feto. Estes bebês nasceram com problemas gastroentestinais, com problemas de pele etc. No quarto grupo, o pesquisador encontrou o que ele chamou de mães indiferentes. Os fetos pareciam perturbados pelas mensagens confusas que recebiam. Existiam razões objetivas das mães para não poder engravidar, mas, no fundo, elas queriam os filhos, ou seja: conscientemente, a gravidez era indesejada, mas inconscientemente, era desejada. Resultaram deste grupo bebês apáticos, letárgicos. Repito: o bebê não se deixa enganar dentro do útero.

EM – O que é que uma mãe não deve fazer nunca quando está grávida?

Raimundo – Ela não deve fazer o que é contra ela e, conseqüentemente, contra o bebê. A mulher tem a responsabilidade biológica de não deixar a espécie morrer; a responsabilidade social de manter seres convivendo comunitariamente e a responsabilidade humanística de produzir seres mais saudáveis. Não existe escola para preparar mães. Elas são formadas no vapt-vupt da vida, copiando modelos, lendo, consultando especialistas. As mães que foram amadas quando bebês não têm com o que se preocupar.

EM – Para resumir , a fórmula é o amor.

Raimundo – Lógico. Se a mãe ama o seu bebê, nada do que ela fizer irá prejudica-lo.

EM – Na sua opinião, cuidando de bebês ainda dentro do útero, a gente pode transformar a humanidade?

Raimundo – Temos sim esta oportunidade. Eu não sou tão idealista e ingênuo a ponto de pensar que isso seja fácil. Mas, na medida em que a humanidade for descobrindo o bebê dentro do útero, ela própria poderá se transformar. Eu que já ganhei o título de protetor da infância, quero mostrar que podemos proteger as crianças muito antes de elas irem para as ruas, preparando as mães grávidas.

Fonte: http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc52924

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