Solenidade da Exaltação da Santa Cruz

"Ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, do mesmo modo é preciso que o Filho do Homem seja levantado. Assim, todo aquele que nele acreditar, nele terá a vida eterna."

Como a festa da Transfiguração, também a da Santa Cruz é intensamente celebrada na Igreja Oriental. Ambas as festas participam da mesma atmosfera: a presença da glória divina no sofrimento e morte de Jesus na cruz, mistério percebido com profunda  sensibilidade pelos cristãos orientais e muito valioso também para nós. Tenha-se diante dos olhos os ícones ou crucifixos com o Cristo glorioso comuns na Igreja Oriental. A liturgia renovada deu a estas festas, juntamente com a da Epifania, um destaque especial, com vistas exatamente à comunhão com as Igrejas Orientais, que, além de significar a unidade, é também um grande enriquecimento para o Ocidente materialista e secularista.

 

A origem da festa remonta à dedicação das basílicas do Gólgota e do Santo Sepulcro, construídas pelo imperador Constantino, em 13 de setembro de 335, sendo que no dia seguinte se mostrava os restos da Santa Cruz.

 

 

Solenidade da Exaltação da Santa CruzO fio central da liturgia deste dia é o simbolismo da elevação na cruz como elevação na glória, desenvolvido por João no evangelho (Jo 3,13-17; cf. tb. 12,32-33 e 19,37, lembrando Zc 19,37: “Contemplarão aquele que traspassaram”). A 1ª leitura vê este simbolismo prefigurado no episódio da serpente de bronze que Moisés levantou diante dos olhos dos hebreus para esconjurar a praga das serpentes (possivelmente lembrança de um antigo culto, cf. 2Rs 18,4). O tema da elevação/exaltação, inspirado por Is 52,13 (o Servo  Padecente, 4° cântico do Servo) preside também à 2ª  leitura, sendo que aqui a exaltação é contrabalançada pelo rebaixamento (esvaziamento, quenose) no sofrimento infligido àquele que nem deveria considerar apropriação injusta a forma divina (Fl 2,6-11). Observe-se que neste maravilhoso texto o rebaixamento não é a encarnação na existência humana, mas a forma de servo/escravo em que essa encarnação é vivida por Jesus.

Olhando o conjunto dos textos somos levados a penetrar mais profundamente neste mistério, que constitui a intuição principal do evangelho de João: o dom da vida de Jesus, morrendo por amor fiel até a morte, na cruz, é a manifestação da glória, isso é, do ser de Deus que aparece: pois “Deus é amor” (1Jo 4,8-9), a tal ponto que Jesus, na hora de assumir a morte na cruz, pode dizer: “Quem me vê, vê o Pai” (Jo 14,9).

Mas essa manifestação da glória de Deus no amor de Cristo que dá sua vida por nós na cruz tem conseqüências práticas para nós: “Jesus deu a vida por nós; por isso nós também devemos dar a vida pelos irmãos” (1Jo 3,16). Também o hino citado por Paulo na 2ª  leitura está num contexto semelhante: Jesus esvaziado como escravo e exaltado como Senhor é o exemplo dos que se reúnem em seu nome, para que considerem os outros mais importantes que a si mesmos e tenham em si o mesmo pensar e sentir dele (2,1-5).

O canto da entrada lembra Gl 6,14: “Que eu me glorie somente na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo”. As palavras seguintes, “o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (v. 15), alimentaram entre os cristãos de antigamente um desprezo pelo mundo. Não é, contudo, com desprezo da realidade terrestre que devemos olhar a cruz, mas como sinal de salvação. Para Paulo, para João, para nós, a cruz é sinal de salvação. Por isso, o mundo não tem mais o mesmo significado. Só conseguimos dar-lhe pleno valor na medida em que ele é marcado pela cruz de Cristo, o sinal da vida doada em amor até o fim.

Fonte: www.franciscanos.org.br
Do livro "Liturgia Dominical",
de Johan Konings, SJ, Editora Vozes)

 

Confira também:

.: Catequese de Bento XVI: "Para o cristão a cruz não é opção"

 

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