Presidente da Pontifícia Academia para a Vida explica Por que contraceptivos são aceitáveis em casos de estupro, mas não em outros casos.

 

Vatican Insider

Tudo começa a partir do caso de uma jovem, vítima de estupro, à qual dois hospitais católicos de Colônia se recusaram administrar a pílula do dia seguinte. Chamado a intervir, o cardeal Joachim Meisner, arcebispo da cidade, depois de reflexões e consultas, abriu a possibilidade de fornecer a pílula. Os bispos alemães, nesta semana, apoiaram a sua decisão.

O Vatican Insider falou a respeito com o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, Dom Ignacio Carrasco de Paula,(foto) à margem da assembleia plenária do órgão vaticano.

Eis a entrevista.

Monsenhor, do que se está falando realmente?


Os bispos alemães decidiram apoiar um colega seu, o cardeal Meisner, no caso de uma norma que se refere aos hospitais católicos da sua diocese. É uma norma irrepreensível, com a qual se repropõe o que a Igreja Católica propõe há ao menos 50 anos – mas uma norma que foi mal interpretada.

Por que foi mal interpretada?

Porque uma coisa é a linguagem jornalística, outra coisa é a linguagem teológica ou clínica.

“Pílula do dia seguinte” é uma expressão jornalística, mas não é um termo médico, não aparece nos receituários ou nas prescrições. Por isso, o cardeal Meisner, na sua indicação, sublinha que “pílula do dia seguinte” é um termo que se refere a muitas coisas e convida a não usá-la.

Ele se limita a dizer aos médicos quais são os critérios a seguir: considerar que é possível o uso de um medicamento cujo princípio ativo é um contraceptivo, no caso de mulheres que sofreram violência, parece-me aceitável. Em vez disso, ele rejeita o uso de um fármaco abortivo.

Por que contraceptivos ou antifecundativos são aceitáveis em casos de estupro, mas não em outros casos?

O critério pelo qual a Igreja não aceita o uso dos contraceptivos vem de Humanae Vitae e antes ainda da Casti Connubii.

Refere-se às relações conjugais, relações em que há um aspecto unitivo, um aspecto procriativo e assim por diante. Um ato de violência, no entanto, é um ato sexual cuja natureza já foi destruída pela violência. Portanto, o anticoncepcional não tem mais o sentido moral da contracepção. Um ato imposto pela violência não pode ser considerado aberto à vida.

Por que esse princípio não é compreendido, mesmo por muitos católicos, e a questão cria tanto celeuma?

Trata-se de casos extremos, enquanto normalmente as pessoas conhece os casos mais comuns, não aqueles excepcionais. Mas é uma norma que já é aplicada há 50 anos, desde o caso da guerra no Congo, em todos os hospitais católicos, embora possa haver um hospital católico em que esse critério não é conhecido, como ocorria em Colônia.

Os críticos dizem que esses medicamentos, embora não intencionalmente, podem ter efeitos abortivos, e esse é um risco que não se pode correr. O que o senhor responde?

A Igreja deve formar as consciências. Nesse caso, ela ensina: em caso de estupro, pode-se fazer o necessário para evitar uma gravidez, mas não se pode interrompê-la. Se um medicamento, no entanto, é contraceptivo ou abortivo, isso devem dizer os médicos e os cientistas, não é tarefa da Igreja.

Então, trata-se de uma tempestade em copo de água?

É uma questão que requer uma análise do caso em particular, não uma resposta genérica que valha para todos. Portanto, é um absurdo que haja uma lei que prescreve que toda mulher que vai ao hospital dizendo que sofreu violência deve receber uma pílula qualquer – trata-se de uma decisão que cabe ao médico, segundo os seus conhecimentos e a sua experiência. Normalmente, porém, dá-se a pílula e ponto final, sem interesse pela pessoa.

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