31 de maio: Devoção a Nossa Senhora do Amor Divino, padroeira da Diocese de Petrópolis

Avaliação do Usuário: / 1
PiorMelhor 

 

A devoção a Nossa Senhora do Amor Divino existe desde o século XIX, quando a imagem foi colocada na Igreja, hoje Capela do Colégio Padre Correa, e este foi um dos motivos que levou Dom Filippo Santoro a transformar a Igreja de Correas em Santuário.

Quando do anúncio de criação do Santuário, em julho, durante a celebração dos sete anos de seu governo episcopal, Dom Filippo Santoro disse que era um desejo seu, pois celebrou na Igreja de Correas a segunda missa na Diocese de Petrópolis. Em julho, o prelado renovou sua entrega a Deus, colocando todo seu trabalho nas mãos de Nossa Senhora, frisando que um dos motivos que o levou a transformar da Igreja de Corrêas em Santuário é a devoção dos fiéis a Nossa Senhora do Amor Divino.

O Santuário guarda uma rica história de dois séculos de participação dos fiéis incluindo o então imperador D. Pedro I e sua família que segundo relata a nota da diocese petropolitana participou de ofícios religiosos no local.

Uma história de fé e devoção

 

Na localidade de Correias, na cidade de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil, encontra-se uma capela histórica dedicada à Senhora do Amor Divino, talvez a primeira do Brasil sob este orago.

Este culto, de origem portuguesa, teria sido praticado anteriormente na fazenda "Rio da Cidade", em oratório particular, onde foi construído um templo consagrado em meados do século XVIII.

 

Dom Pedro I várias vezes se prosternou ante a imagem para implorar o restabelecimento da saúde de sua filha Paula Mariana, hospedada na fazenda do Padre Correia durante muito tempo por indicação médica. O Imperador assistiu ali, quando voltava de sua viagem a Minas, à primeira missa do ano 1831, último de sua estadia no Brasil.

Na década de 1930, o santuário deixou de celebrar o culto público, que foi transferido para a atual matriz de Correias, mais moderna. Porém, o artístico altar assim como a imagem da Virgem do Amor Divino foram levados para o novo templo.

A matriz de Correias é sede da única paróquia brasileira dedicada a este título mariano. E atualmente é um Santuario de Nossa Senhora do Amor Divino.

Há um santuário de Nossa Senhora do Amor Divino em Roma.

A diocese de Petrópolis e o Seminário Diocesano de Petrópolis têm Nossa Senhora do Amor Divino como patrona.

A capela dos Corrêas e sua sucessora

 

      Não havia nas terras da Serra da Estrela nenhuma capela que atendesse os anseios religiosos de quem por ali vivia. Estamos falando dos meados do século XVIII. Ana do Amor de Deus era proprietária da Fazenda Rio da Cidade e casou-se com Manoel Antunes Goulão, que recebeu as terras, por carta de sesmaria, que confrontavam com a dela; com a união foi aumentando o latifúndio do casal.

Ana consagrara o seu nome à devoção do Amor de Deus. Os dois tornaram-se por conseqüência, responsáveis pela difusão do culto à Virgem, na região das glebas do Piabanha. Como não havia nenhuma capela na região serrana, Manoel Antunes requereu, a quem de direito, licença para erigir uma capela com a faculdade de usar a pia batismal e tomou a Santa Virgem como padroeira, sob a invocação do Amor de Deus. Foi construída e benzida e tornou-se a primeira capela levantada "nas amáveis terras da Serra da Estrela".

Não está muito claro nos escritos este assunto. Deduz-se que essa primeira capela foi erguida modestamente na fazenda Rio da Cidade e só depois passou para a casa da fazenda dos Corrêas, pois sua colocação, privilegiada, às margens da Estrada dos Mineiros, a tornaria mais acessível à veneração da Virgem. Nela se ampliaram depois os ofícios religiosos com a realização da lei do matrimônio e teve, também, a regalia do Santíssimo Sacramento.

"O altar era suntuoso, de madeira burilada, e a imagem de Nossa Senhora do Amor Divino foi talhada num só bloco de pesadíssima madeira. Era realmente um precioso exemplar de estatuária religiosa artística, de uma perfeição de detalhes inimitável". Ajoelharam-se a seus pés senhores e modestos escravos das fazendas que formariam, depois, a maior parte do nosso município, bem como os forasteiros e autoridades que por ali passavam.

Em 1823, o marechal Cunha Mattos, hóspede cinco dias na fazenda, deixou escrito em seu diário, a seguinte referência: "ao lado da casa do padre Corrêa existia uma belíssima capela com perfeitas imagens de santos, e um lindo presépio. Esse presépio, armado em local engenhosamente preparado, possuía dimensões que excediam do vulgar".

 "As numerosas figuras, de gesso e de madeira artisticamente trabalhada, foram, aos poucos, depois que a fazenda entrou em decadência, tomando destino ignorado". D. Pedro I e família, que várias vezes se hospedaram na fazenda, e em cujos aposentos tinham comunicação interna com a capela, costumavam assistir aos ofícios religiosos.

O erudito doutor Escragnolle Dória, em 1926, fez uma curta temporada de repouso em Corrêas. Na "Revista da Semana" do mesmo ano, escreveu: "Ainda há pouco, viajando, teve alguém ensejo de passar por antiga fazenda mais ou menos como tal a deixou a escravidão, embora apropriada a outros místeres. Quase tudo ali é outrora: os quartos amplos, as salas espaçosas, os largos soalhos para séculos, sobretudo a capela, recinto pequeno, silencioso, de meia luz, ao fundo do qual surge o altar-mor, antigo e único, porém cuidado, vestido de alva toalha; Nossa Senhora, no lugar de honra, imagens de santos formando corte de respeito"...

Desde 1924, porém, já se cogitava seriamente, pelos moradores católicos, de se possuir um templo moderno que substituísse a pequena capela da fazenda. A 29 de maio de 1928, fundou-se em Corrêas a "Irmandade do Espírito Santo e de Nossa Senhora do Amor Divino". Essa Irmandade além de cumprir sua missão de promover as comemorações do mês mariano e os festejos do Espírito Santo, empenhou-se na construção de um novo templo. Várias quermesses e campanhas foram realizadas no parque do hotel D. Pedro I - antiga casa da fazenda - para angariar recursos que possibilitassem a realização do sonhado projeto.

A 17 de agosto de 1930, foi finalmente, depois de vários tropeços, lançada a pedra fundamental, em terreno já adquirido, não muito longe da capela da fazenda. Tratava-se de uma realização em marcha, que seguiria até a sua completa finalidade, encaminhada por intrépidos batalhadores. "A planta de sua construção obedeceu o desenho da matriz de Bráz de Pina, do Rio, que por seu turno reproduziu o modelo de uma igreja da Holanda."

Muita luta foi necessária para se obter recursos para a obra, mas o povo de Corrêas não decepcionou, bem como os devotos do Amor Divino. A 28 de agosto de 1932, dois anos após o lançamento da pedra fundamental, o novo templo, "sóbrio e confortável, com muita graça, muita luz, muito ar e excelente acústica, abria-se solenemente ao culto público".

Foi aproveitado o altar que pertencia à antiga capelinha, admirável exemplar de obra de entalha. A bela imagem de Nossa Senhora do Amor Divino ganhou seu novo trono e Corrêas preservou a tradição de 200 anos, iniciada na fazenda Rio da Cidade, e continuada na fazenda do padre Corrêa.

Nossa Senhora do Amor Divino e a Diocese de Petrópolis

  No dia 9 de janeiro de 1948 foi publicada a nomeação de Monsenhor Cintra para Bispo da Nova Diocese de Petrópolis; sagrado a 28 de março, Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra tomou posse de sua Diocese a 25 de abril de 1948. Era um novo campo de trabalho para o mesmo herói do serviço à das vocações sacerdotais.

Petrópolis foi o mais novo e amplo desafio para Dom Manoel: a Diocese não tinha patrimônio, não tinha Seminário nem recursos com que pudesse adquirir terreno onde construí-lo. O clero era constituído de Sacerdotes religiosos de quatro Ordens: Franciscanos, Lazaristas, Premonstratenses e Missionários dos Sagrados Corações, ocupados de oito Paróquias. O total era de 18 Paróquias e das dez que deveriam ser atendidas por Padres Seculares só seis estavam provisionadas e as outras quatro anexadas.

Diante da realidade tão pouco favorável, Dom Manoel, como era de esperar, apelou para a oração, e para a organização, pois contava com uma surpreendente figura do Clero Secular, o seu Vigário Geral Monsenhor Francisco Gentil Costa.

Em suas horas tranqüilas Dom Manoel ouvia o eco da ordem insistente de Pio XII: “é preciso construir o Seminário!”

Construir!... Como? Do nada? Há uma solução, pensou Dom Manoel: vou recorrer a Nossa Senhora do Amor Divino. E diante da imagem de Nossa Senhora, a mais de duzentos anos venerada em Correas, o Bispo de Petrópolis ajoelhou-se e pediu auxílio. Maria atendeu prontamente a Dom Manoel que, antes de completar um ano em Petrópolis, em março de 1949, abriu o Seminário aos primeiros 23 alunos instalados na mansão da Granja São Luís, em Correas, com vasta área de terreno, onde iria construir o futuro definitivo prédio.

A Granja São Luís foi recebida em doação feita pela benfeitora Embaixatriz Lavínia Guimarães. Doação espontânea, sem qualquer condição, com posse imediata de tudo o que se encontrava na granja... D. Lavínia desejava apenas que fosse construído o seminário...

Parecia um sonho! Dom Manoel “exultavit sicut gigas ad currendam viam” (Sl 18 A), que na perfeita tradução do Padre Leonel Franca significa: exultou como um herói para percorrer o seu caminho. Organizou imediatamente na Diocese a Associação da Obra das Vocações Sacerdotais: convocação geral em toda a Diocese, ao tempo, de vasto território, porém ainda pouco populosa. Os sócios que em poucos anos ultrapassaram os 12 mil, obrigavam-se a rezar pelas vocações e a recolher contribuições para construção do Seminário. Esse movimento e o despertar de muitos benfeitores que Deus providenciou tornaram possível a construção do Seminário. Em dezembro de 1952 foi inaugurada metade da construção e em agosto de 1956. Todo o edifício estava concluído inclusive a capela que mereceu maiores cuidados.

Aos 92 anos de idade, 68 anos de Padre, 51 anos de Bispo, faleceu, no Seminário, em Correas, o Herói do movimento Vocacional. Sua última Missa foi concelebrada a 25 de março de 1999, em Ação de Graças pelos 50 anos de Fundação do Seminário, Dom Manoel faleceu em 30 de março de 1999, pouco depois de ter ouvido o sino do Seminário soas as Aves-Marias das 18 horas.

Origem da devoção à Nossa Senhora do Amor Divino

A FAMÍLIA CORREIA

Para escrever a “Carta Pastoral de Saudação aos seus Diocesanos e sobre as Vocações Sacerdotais”, Dom Manoel inteirou-se sobre a história de Petrópolis e particularmente sobre a devoção a Nossa Senhora na região petropolitana.

A estrada aberta na Serra da Estrela por Bernardo Soares de Proença, no século XVIII, atraiu para a região serrana o casal português Manoel Antunes Goulão e Caetana de Assumpção com sua filha única Brites Maria de Assumpção Goulão. Em terras vizinhas às da fazenda do referido casal, no Rio da Cidade, vivia o jovem Manoel Correia da Silva, português, solteiro, nascido na Guarda, que se casou com Brites de Assumpção Goulão, portuguesa de que nasceram seis filhos. Toda a família era devota de Nossa Senhora do Amor de Deus.

Em outubro de 1749, Manoel Antunes Goulão pediu licença à Câmara Eclesiástica do Rio de Janeiro para edificar uma capela em sua fazenda, dedicada a Nossa Senhora do Amor de Deus. Obtida a licença, a capela foi construída e inaugurada em 1751. Acredita-se que a imagem da padroeira dessa capela veio de Portugal para a inauguração da pequena capela.

A fazenda era próspera, a capela muito freqüentada e a proteção de Nossa Senhora era manifesta. Por volta de 1782, seus responsáveis Manuel Correia da Silva e filhos resolveram mudar a sede da fazenda para o local onde hoje se encontra o Colégio Padre Correia; foi motivo da mudança a vantagem de ficar mais próxima da nova estrada para as Minas Gerais (conhecida pelo nome de “mineira”).

Junto à nova sede da fazenda, o Padre Correia, que por morte de seu pai Manuel Correia, assumiu a administração de toda a propriedade, construiu a capela de Nossa Senhora, que ainda existe e é tombada pelo Patrimônio Histórico. No fim do século XVIII, a capela é referida em todos os documentos eclesiásticos com o título de Nossa Senhora do Amor Divino, talvez por expressão mais popular, perfeitamente correta.

Em suas obras tranqüilas, nos primeiros dias em Petrópolis, Dom Manoel ouvia o eco da ordem dada por Pio XII: “É preciso construir o seminário!”... Construir!... Como? Do nada? Há uma solução, pensou o Bispo de Petrópolis: vou recorrer a Nossa Senhora do Amor Divino! A Diocese não tinha patrimônio, mas tinha a proteção da Mãe de Deus. Dom Manoel foi visitar a capela de Correas, não a da fazenda, mas a da Vila que hoje é sede da Paróquia local e foi construída pelo povo, inaugurada em 1933, quando recebeu em seu altar a tradicional imagem de Nossa Senhora do Amor Divino. Ali diante da imagem da Mãe de Deus, Dom Manoel se ajoelhou, pediu auxílio e foi atendido prontamente.

O casal Manuel Correia da Silva e Brites Maria de Assumpção Goulão, residente nas vizinhanças do Rio da Cidade, herdaram a fazenda do falecido Manoel Antunes Goulão, onde fora construída a primeira capela dedicada a Nossa Senhora do Amor de Deus, posteriormente designada nos documentos eclesiásticos pelo nome de Nossa Senhora do Amor Divino.

Manuel Correia e Brites Maria tiveram seis filhos: três meninos e três meninas. São eles: Luisa, Luiz Joaquim Correia, Agostinho Correia Goulão, Maria Brígida, Antonio Tomaz de Aquino Correia e Arcangela Joaquina Correia. Os filhos homens não deixaram descendência na família Correia: Luiz Joaquim Correia foi estudar em Coimbra, formou-se e radicou-se em Portugal, sem que se tenha qualquer outra notícia dele. Agostinho Correia Goulão estudou e doutorou-se em Portugal, voltou ao Brasil e permaneceu solteiro, falecendo em sua fazenda de Santo Antonio da Soledade, com sede na estrada que vai de Itaipava a Teresópolis.

Antonio Tomaz de Aquino Correia estudou no Rio de Janeiro, ordenou-se sacerdote. Encarregou-se do serviço religioso na região, e a partir de 1784, quando seu pai morreu, tornou-se o responsável pela fazenda, a que o povo se referia como “Fazenda do Correia”, mais tarde “Fazenda dos Correias”, porque surgiram outros descendentes com o mesmo sobrenome, netos de Manuel Correia cujas três filhas foram casadas.

A primeira filha Luisa Correia faleceu sem deixar descendência. A segunda filha Maria Brígida Correia casou-se com Pedro Gonçalves Dias e teve cinco filhos. A filha mais nova Arcangela Joaquina casou-se com José da Cunha Barbosa. Teve sete filhos. Quando faleceu seu irmão, o Padre Antonio Tomaz de Aquino Correia, a 19 de junho de 1824, D. Arcangêla passou a ser a única responsável pela fazenda dos Correias.

A família iniciada com Manuel Correia e Brites Maria, no Rio da Cidade, foi abençoada por Deus com várias vocações sacerdotais. Para exemplificar, anotamos os nomes dos sacerdotes que aparecem nos livros de batizados, de casamentos e de óbitos, entre 1781 e 1810: Padre Antonio Tomaz de Aquino Correias, Padre Luiz Gonçalves Dias Correia (foi o primeiro Vigário de São José do Rio Preto e depois primeiro Vigário de Petrópolis, em 1846) Côn. Alberto Correia da Cunha Barbosa (filho de D. Arcangela), Padre Januário da Cunha Barbosa (neto de D. Arcangela, foi Cônego e Cura da Capela Imperial no Rio de Janeiro) e Padre João Gonçalves Dias Correia Goulão (filho de Brígida Maria Gonçalves Dias, e neto de Maria Brígida de Assumpção Correia, dona da fazenda do Belmonte, que hoje é conhecido por Alcobaça).

Ainda outro sacerdote surgiu na família Correia, e este o mais ilustre até hoje conhecido. Nasceu em Cuiabá (MT): é Francisco de Aquino Correia. Assim se explica o fato de haver nascido na região oeste: Joaquim Correia Gonçalves Dias, neto do patriarca Manuel Correia, filho de Pedro Gonçalves Dias e Maria Brígida de Assumpção Correia, transferiu-se de Correas, onde nasceu, para as terras da região oeste e centro oeste, onde veio a falecer em 1840. Embora não tenham dados preciosos, esse Joaquim Correia terá sido avô do menino que veio a ser sacerdote, nascido em Cuiabá em 1885.

Este menino, Francisco de Aquino Correia, tornou-se Padre Salesiano ordenado em 1909, foi sagrado Bispo em 1915 e foi Arcebispo de Cuiabá, de 1921 a 1956. Grande orador sacro e poeta, Dom Francisco de Aquino Correia pertenceu à Academia Brasileira de Letras.

Convém notar-se que as pessoas da família Correia assinavam o próprio nome indiferentemente Correia ou Correas; o Arcebispo de Cuiabá sempre assinou Correa.

Não há duvida que a devoção a Nossa Senhora do Amor Divino na família Correia foi abençoada com muitas vocações sacerdotais. Mas, sem duvida, Nossa Senhora estava a espera do primeiro Bispo de Petrópolis para ser ainda mais generosa em bênçãos de vocações: Nossa Senhora quis em Correas um Seminário que lhe fosse dedicado, e que viria a ser realidade pela atuação apostólica de Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra.

Dom Manoel anuncia a fundação do Seminário

Confiante de que receberia o auxílio de Nossa Senhora, Dom Manoel trabalhou imediatamente de organizar na Diocese a “Obra das Vocações Sacerdotais” (OVS) e convocou todas as forças vivas entre o povo fiel para que, organizadas em todas as paróquias, rezassem e conseguissem ajuda material para o Seminário que seria construído.

Esta preparação, espiritual e prática, foi recebida com entusiasmo pelos leigos, dos mais ilustres na sociedade até aos operários e as pessoas de condição mais simples, todos orientados pelo Vigário Geral Monsenhor Gentil a quem Dom Manoel nomeou Diretor da OVS, extraordinária figura do clero secular em Petrópolis, que se dedicou inteiramente ao serviço do movimento em favor das vocações e do futuro seminário.

No dia 6 de janeiro de 1949, Dom Manoel escreveu uma carta aberta a todos os seus diocesanos, comunicando a novidade em Petrópolis: abriria o Seminário em março! Suas primeiras palavras foram: “É com a alma exultante de júbilo que vos escrevemos para comunicar a mais alvissareira notícia: a inauguração próxima do nosso Seminário Diocesano. Com o Seminário poderemos... pensar em reunir os fiéis dispersos pelas heresias ou vítimas das superstições; podemos pensar em assistir amplamente aos pobres, aos órfãos, aos doentes, aos desvalidos de toda espécie; poderemos pensar em difundir em todas as camadas sociais a vida genuinamente cristã, vida de fervorosa piedade, de sincera virtude, de obediência conscienciosa aos deveres de estado... O Seminário tornará tudo isso possível. Porque nada na Igreja se faz sem o Sacerdote... Nossa Diocese vai ter o seu Seminário... Sua abertura será dia 3 de março próximo, com a matrícula de 23 primeiros alunos, e sua inauguração solene será no dia 25 do mesmo mês... Situado no salubérrimo e amenissímo recanto de Correas, o Seminário vai abrir-se ali próximo à capelinha do povoado, onde se encontra a Virgem do Amor Divino, Virgem a quem antecipadamente entregáramos todos os cometimentos de nosso desvalido episcopado. Inefáveis desígnios de Deus! Maternais finezas da Rainha dos Céus! Precisamente à sombra de Sua Imagem venerada e milagrosa dispôs Maria Santíssima recebêssemos valiosissima doação de uma magnífica chácara para o Seminário.

Em testemunho da perene gratidão nossa, Ela, Nossa Senhora do Amor Divino: “Mater Pulchrae Dilectionis” será a Titular do Seminário Diocesano.

Para terminar a carta Dom Manoel escreveu: “Esperamos paternalmente que todos, caríssimos filhos e diocesanos nossos, haveis de corresponder generosamente ao apelo de vosso Pastor e assim dentro de nosso tempo possa ser inaugurado definitivamente o prédio do Seminário construído pela generosidade vossa. Com estes sentimentos de esperança no coração...damo-vos afetuosamente Nossa Benção Pastoral”.

Nessa carta circular em que anunciava a abertura do Seminário, Dom Manoel referiu-se à doadora de uma chácara em Correas para que se abrisse o Seminário; referiu-se também ao vosso edifício que seria preciso construir “amplo e majestoso, adequado a altíssima finalidade”. A doadora da chácara foi a Embaixatriz Lavínia Luiz Guimarães, viúva do Embaixador Luiz Guimarães Filho.

Na referida doação, há circunstâncias e pormenores que não se podem omitir para que se possam avaliar os designos da Providência, realizados afinal pela intercessão de Nossa Senhora do Amor Divino.

IV. Um Prodígio de Nossa Senhora

O Fundador do Seminário dizia freqüentemente: “O Seminário é um prodígio de Nossa Senhora!” Não há dúvida. A trama que a Providência preparou para favorecer a Diocese de Petrópolis pela intercessão de Nossa Senhora do Amor Divino é algo de extraordinário em todas as minúcias.

A viúva do Embaixador Luís Guimarães Filho, Lavínia de Souza Ribeiro era proprietária da Granja São Luís, onde residia, em Correas. Muito piedosa e devota do Santíssimo Sacramento, pretendeu fazer de sua residência um convento de religiosas às quais ela reuniria para adoração ao Santíssimo. Tinha capela em casa, na qual se conservava o Santíssimo e se celebravam missas. Ela alimentou o ideal de viver em comunidade, e conseguiu que viessem da Itália para Correas três “Irmãs Sacramentinas de Bérgamo”. Humildemente, Lavínia entregou a direção da casa a uma das Irmãs italianas.

Não tardou e logo se descobriu um equívoco: o carisma das Irmãs de Bérgamo não era vida contemplativa, e sim que, radicadas na devoção ao Santíssimo , se ocupassem na catequese.

O equívoco não ocorreu por culpa de Dona Lavínia, mas pela inexperiência de quem escolheu as religiosas de Bérgamo para fundar a Casa no Brasil. Santo e Providencial equívoco! Desmoronou-se o plano de Lavínia. Na capela de sua residência, rezavam-se na celebração da Missa Padres religiosos: Lazaristas, Franciscanos, Jesuítas e até Padres seculares, por vários anos. Dona Lavínia continuava rezando para conseguir tornar-se religiosa em sua própria casa... Seis meses depois da visita de Dom Manoel à capela de Nossa Senhora do Amor Divino para pedir auxilio a Maria, a proprietária da Granja São Luíz convidou o Bispo Diocesano a visitar a capela de sua residência, e aí foi o momento da Graça: Lavínia havia mudado de idéia sem preâmbulos, disse a Dom Manoel: “Aqui está, Sr. Bispo, o Salvador Eucarístico. O Seminário é uma obra profundamente eucarística. O Padre realiza-se na Eucaristia... Vou entregar tudo para o Seminário!” E a doação à Diocese foi pronta, total e definitiva, sem condições!

Dona Lavínia entregou imediatamente sua casa ao Sr. Bispo, para que ali, em Correas, fosse quando antes instalado o seminário. Dom Manoel não perdeu tempo. Iniciou imediatamente ligeiras adaptações ao solar da Embaixatriz, onde abriu o Seminário em março de 1949. Na mesma Granja São Luíz, Dona Lavínia passou a residir numa pequenina casa à parte, antes destinada aos empregados. Aí entregou-se mais à oração e se preparou para ingressar no Carmelo de Belo Horizonte, aos 62 anos de idade. No Carmelo foi exemplar religiosa e faleceu a 23 de setembro de 1968. Sepultada em Belo Horizonte, alguns anos depois seus ossos foram exumados e trazidos por Dom Manoel para a Capela do Seminário em Correas, onde já se encontravam os ossos do embaixador Luís Guimarães.

O Casal Lavínia e Luís Guimarães não teve filhos. Lavínia conseguiu, com suas orações, pela Graça de Deus levar seu marido à prática da religião, com edificante devoção ao Santíssimo Sacramento e à Santa Teresinha. Luís Guimarães faleceu piedosamente a 19 de abril de 1940. Como o casal não tivesse herdeiros necessários, Luís Guimarães, pouco antes de morrer, pediu a Lavínia que todos os seus bens fossem destinados a obras de caridade ou de finalidade religiosa. Foi o que Dona Lavínia fez, com desprendimento total.

INÍCIO DO SEMINÁRIO: FESTA DE INAUGURAÇÃO

No “Livro do Tombo” do Seminário foi anotado: “3 de março de 1949 – Na casa residencial da antiga Granja São Luís, à Estrada União Indústria, 3441, em Correas, 2º Distrito do Município de Petrópolis, generosamente doada pela Exma. Embaixatriz Lavínia Luís Guimarães, teve início, nesse dia, o Seminário Diocesano de Petrópolis, cujo titular é Nossa Senhora do Amor Divino”.

Para a abertura do Seminário, Dom Manoel, que no momento não dispunha de Padres da Diocese para a direção da casa, encontrou dois Sacerdotes que se dispuseram a colaborar para a Casa de Nossa Senhora do Amor Divino entrasse imediatamente em funcionamento. O admirável é que um dos Padres era petropolitano, mas pertencia à Diocese de Niterói: Padre Gilberto Ferreira de Souza, que foi o primeiro Reitor; o outro, Padre Matheus Nogueira Garcez, era da Arquidiocese de São Paulo e acabava de chegar de Roma, onde cursou Teologia e veio ocupar o cargo de Diretor Espiritual no nosso Seminário, que na primeira matrícula abrigou 23 alunos.

Quanto ao corpo docente, foi formado por alguns outros Padres da própria Diocese e também por leigos.

O Seminário foi aberto a 3 de março, no início do ano letivo, mas Dom Manoel Marcou a inauguração solene para o dia 25 de março de 1949, dia da solenidade litúrgica da Anunciação do Senhor e festa a Vigem Maria, titular do Seminário sob a invocação de Nossa Senhora do Amor Divino.

Esta providência do Bispo Diocesano deu-lhe tempo de convidar as pessoas mais ilustres, o clero e os fiéis para assistirem ao lançamento da Pedra Fundamental do novo e definitivo edifício, cuja “maquete” já estava exposta ao público em tradicional casa comercial de Petrópolis. A cerimônia de inauguração solene e da Pedra Fundamental foi presidida pelo Sr. Cardeal Câmara Arcebispo do Rio de Janeiro, e iniciada às 10:30 horas.

Estavam presentes à Cerimônia vários dignitários eclesiásticos, entre os quais Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, Bispo Diocesano de Petrópolis; Dom João Matta de Andrade e Amaral, Bispo Diocesano de Niterói; Monsenhor Francisco Gentil Costa, Vigário Geral de Petrópolis; Monsenhor João de Barros Uchôa, Vigário Geral de Niterói; Padre José Jovita Monteiro Luís, Pároco de Cascatinha e Correas, e vários outros Sacerdotes diocesanos e religiosos.

Importantes autoridades civis e militares compareceram à solenidade: Coronel Osmar Soares Dutra, Comandante do 3º R. I., representante do Senhor Presidente da República Eurico Gaspar Dutra; representante (cujo nome não conseguimos anotar) do Governador do Estado Edmundo de Macedo Soares e Silva; Dr. Flávio Castrioto de Figueiredo e Melo, Prefeito de Petrópolis; Dr. J. Serpa de Carvalho, Promotor Público da Comarca; Dr. Nelsom de Sá Earp, vereador; Jaime Justo da Silva, vereador.

No momento da bênção da “Pedra Fundamental”, foi lida a ata dessa histórica solenidade, assim redigida: “Aos vinte e cinco dias do mês do ano da graça de 1949, Solene Festividade da Anunciação, Místicos Esponsais da Virgem com o Espírito Santo, sob os carinhosos auspícios da Mãe do Belo Amor, reinando gloriosa e pacificamente S. Santidade o Papa Pio XIII, sendo Núncio Apostólico no Brasil S. Excia. Revma. o Sr. Arcebispo Titular de Amida Dom Carlos Chiarlo, Bispo da Diocese Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, Presidente da República o Exmo. Sr. General Eurico Gaspar Dutra, Governador do Estado o Exmo. Sr. Coronel Edmundo de Macedo Soares e Silva, Prefeito de Petrópolis o Dr. Flávio Castrioto de Figueiredo e Melo, S. Em.a o Sr. Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, do Título dos Santos Bonifácio e Aleixo Arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro benzeu e colocou a primeira Pedra Fundamental deste Seminário Diocesano de Nossa Senhora do Amor Divino, que graças à Extraordinária Munificência da Exma. Embaixatriz Dona Lavínia Luís Guimarães, doadora de todo o terreno, vai erguer-se nesta aprazível colina de Correas, próxima à histórica imagem sob cuja Titular Proteção espera confiante tornar-se Santuário feliz de levitas que, formados no puro Amor de Deus, possam participar do eterno sacerdócio de Jesus Cristo Senhor Nosso”.

Na ocasião colocaram-se na urna a ata da solenidade, jornais do dia e moedas em circulação. Abrilhantou a festa a Banda Musical do 3º R. I. e Coral dos Canarinhos de Petrópolis, regido por Frei Leto. Houve salva de 21 tiros em sinal de regozijo pelo faustoso acontecimento.

Foi o início da realização do mais importante plano pastoral de Dom Manoel, que havia escrito em sua Carta de Saudação aos seus Diocesanos: ... “em secreta homenagem Àquela que, sendo Mãe de Deus, é Mãe nossa e nossa Rainha, para junto d’Ela nos ajoelharmos, em sua igreja do Amor Divino, em Correas. Ali, junto à sua Imagem expressiva e meiga que tem as mãos, não já o Menino Jesus, mas o Espírito Santo, Seu Divino Esposo, por quem consumida de santidade e de amor, concebeu nas puríssimas entranhas o Verbo Eterno, gerando-O para nós, no seu Mistério Augustíssimo da Encarnação”... “Nossas Esperanças e nossos propósitos, nós os colocamos com ilimitada segurança em Seu Coração e Mãe, certos de que sua bondade que nunca nos faltou nos aflitos caminhos da vida, não nos há de faltar agora”.

V. A construção do novo Edifício

Terminada a festa da “Pedra Fundamental”, as máquinas e terraplanagem entraram em ação: foi necessário cortar grande parte do morro junto ao qual se ergueria o futuro novo edifício do Seminário. O início da obra daria grande impulso ao abençoado trabalho da OVS na Diocese.

Petrópolis era uma Diocese de vasto território, em 1948: abrangia cinco municípios completos e mais algumas Paróquias nos Municípios de Três Rios e de Paraíba do Sul. A população, relativamente pequena, começou logo a apresentar a dita “explosão demográfica”, mormente na região da baixada.

Dom Manoel tinha na Diocese poucos Padres: os diocesanos seculares não passavam de 10; os religiosos, um pouco mais numerosos, nem sempre estavam à disposição da Diocese. A solução provisória foi recorrer a outras Dioceses: Dom Manoel convidou e conseguiu Padres seculares de várias Dioceses do Brasil e da Europa. Problemas de toda a ordem, que o Bispo devoto de Nossa Senhora do Amor Divino resolvendo com tranqüilidade a perseverança: criação de novas paróquias, visitas a pastorais prolongadas, assistência particular às Associações que mais se empenhavam no apostolado (Filhas de Maria, Congregados Marianos, Liga Católica, Apostolado da Oração, Obra das Vocações, Cruzada Eucarística Infantil). Constantemente empenhado na construção do Seminário, Dom Manoel estava sempre ao par de tudo o que se passava nas paróquias; por vezes tinha que lamentar, quando algum Sacerdote não cumpria seu dever de pastor zeloso na Paróquia, e dizia: “pior do que faltar Padre é sobrar Padre”, porque aquele que não cumpria o seu dever... estava sobrando! No caso, o Bispo nunca duvidou em afastar o “inadimplente”.

Iniciaram-se as obras do Seminário na antiga Granja São Luís. Dom Manoel, ao lado das preocupações com as despesas sempre mais vultosas, tinha especial motivo para espairecer depois do almoço: todos os dias dirigia-se a Correas para ver a obra sair do chão. Como o terreno havia sofrido grande corte de preparação, alguém teve a infeliz idéia de espalhar em Petrópolis a possível ruína da obra com as fortes chuvas de verão... vai descer tudo morro abaixo! Qual nada! A cassandrice falhou.

Seriam 4.500m2 de construção. A obra estava orçada em 20 milhões da época. As contribuições do povo, não faltavam, mas entravam como que a conta-gotas; porém a Mão de Deus tudo providenciava para que nada faltasse. Embora parcos os recursos financeiros, eram extraordinários os donativos e contribuições em material de construção. Oportunamente , Monsenhor Gentil, o Vigário Geral de todas as horas, teve ocasião de informar a uma assembléia geral da OVS: “Coisa admirável! A despesa coma mão-de-obra superou a despesa com o material!”

Iniciada ao obra com plena confiança na Divina Providência, iria até o fim sem interrupção. A cada dia chegavam donativos, às vezes para resolver situações difíceis, e não raro anônimos como foi o caso de uma pessoa que telefonou à noite para Dom Manoel, sem identificar-se, para doar 200 mil cruzeiros, exatamente a quantia necessária no momento para que a construção não fosse interrompida.

A antiga residência de Dona Lavínia, ligeiramente adaptada para receber os primeiros 23 seminaristas, foi ficando pequena para acomodar os alunos: 23 em 1949, 49 em 1950, 60 em 1951... E o novo prédio estava no esqueleto! Foi necessário acelerar as obras, de modo que ao menos uma parte, menos da metade do projeto, pudesse ser inaugurada em dezembro de 1952, porque no início de 1953, o Seminário estava para escolher 60 jovens candidatos. Ao ser concluído, o edifício seria um harmonioso conjunto colonial de três pavimentos em forma triangular, quase um triângulo isósceles, no qual, onde ficaria o ângulo formado pelo encontro dos lados iguais, estaria erguido o vestíbulo majestoso, porta central, frontispício encimado pela cruz, cornijas em realce, elegantes, espelhando a grandeza da finalidade a que se destinava a Casa Rosa de Nossa Senhora do Amor Divino. Clima de montanha, visão ampla das alturas, como um convite permanente à realização sadia do Reino de Deus.

No início de 1951, ficou decidido que seria terminada a primeira ala mais ao norte, na qual ficaria a cozinha, o refeitório, um dos dormitórios, algumas salas de aula, quartos para Padres, enfermaria e outras dependências. Espaço suficiente para abrigar 60 estudantes do Seminário menor. A inauguração dessa ala foi marcada para o dia 8 de dezembro de 1952.

Faltava ainda mais da metade para a conclusão do edifício, mas a Casa Rosa já se destinguia entre a mata de Correas como um diamante raro engastado na montanha.

Nenhuma obra é bonita quando está sendo construída; a do Seminário não foi diferente, embora já se mostrasse alegre na parte inaugurada em 1952. Ao seu lado erguia-se um emaranhado de andaimes que, à época, eram verdadeiros “simples”, como diria Alexandre Herculano. A visão pouco agradável porém, não era a pior: a fase da construção é que mais preocupava. Corria-se o risco de, com a demora, o desânimo viesse a dominar os colaboradores, envolvidos já na espiral inflacionaria que começava a despontar no Brasil.

A construção do Seminário prosseguia sempre no mesmo ritmo: escasseavam recursos, surgiam novos benfeitores com os mais necessários donativos, e assim foi até o fim, quando foi necessário o maior cuidado na construção da capela, a parte mais digna da Casa de Formação dos futuros Sacerdotes. Dom Manoel cuidou pessoalmente de mandar fazer na Europa três imagens: a Nossa Senhora do Amor Divino, para o grande nicho acima do altar-mor, esculpidas por um grande artista italiano, residente em pequenina cidade próxima de Milão, na Itália; fora do Presbitério, em altares laterais, um de cada lado, ficaram as outras duas imagens, igualmente de madeira: uma do Sagrado Coração de Jesus e outra de São José; ambas encomendadas a artistas espanhol, em Barcelona, na Espanha. Artisticamente perfeitas, teologicamente exatas, as três imagens são de pintura rica. A imagem de Nossa Senhora, sem o valor histórico da original que se encontra na Igreja Matriz de Correas e é perfeito modelo barroco, impressiona pela beleza, como se harmonizasse em si todos os Privilégios de Maria Mãe de Deus – Ela inspira piedade e poesia:

É tão bom olhar de perto
Essa imagem singular,
– Senhora do Amor Divino –
Que nos convida a rezar:

Tem a face da Senhora Imaculada,
Tem o triunfo da Senhora da Assunção,
Tem manto em dobras douradas,
E místico olhar de Mãe...

Tem coroa de Rainha,
E a graça de Deus nas Mãos:
Senhora do Amor Divino,
Senhora, Nossa Senhora,
Que o povo cristão venera...

Olhos cheios de ternura, Ela até me afigura Imagem do Céu na terra...

A capela, que é a jóia da Casa, é interna e integrada no conjunto. Com três portas iguais ela traça, no altar ao térreo, a linha do lado oposto ao vértice do ângulo formado pelos dois lados iguais. Seu traçado é original. Dificilmente o observador leigo conseguirá calcular-lhe a área útil: mais ou menos 520 m2, de pé direito bem alto, pintada predominantemente em azul claro, com todos os realces brancos nos arcos do presbitério e dos altares laterais, e no teto. Sempre recolhida: à noite, tem iluminação indireta; de dia tem a claridade piedosa da luz solar filtrada através de dois grandes vitrais, em dimensões impressionantes.

Um dos vitrais apresenta com cores harmoniosas o desenho do Seminário e a figura de Jesus Cristo acolhendo seminaristas e candidatos ao ingresso na Casa de Formação Sacerdotal: na parte inferior lê-se a frase, em latim, Venite, Ego Elegi Vos... Vinde, Eu vos Escolhi. Este vitral foi dado pelo Dr. Arnaldo Guinle, que também ofereceu tijolos fabricados em sua cerâmica em Bemposta.

O outro vitral apresenta Jesus Cristo num largo gesto, em meio a um trigal ondulante, indicando aos jovens o caminho do apostolado: na parte inferior lê-se a frase, em latim, Messis quidem multa operari autem pauci, palavras que lembram a ordem de Jesus para que pedíssemos a Deus as vocações Sacerdotais, pois “A messe é grande, mas poucos são os operários” (Mt 9,37).

Os inspirados desenhos nos vitrais são do renomado artista brasileiro Prof. Carlos Oswald, e quem os executou foi J. Giraldi, em Petrópolis. A capela foi a última parte que se concluiu no edifício, cujo projeto foi do arquiteto Dr. Oséias Otávio Vilela de Andrade; realizado na íntegra, mereceu a rápida e expressiva descrição de Dom Manoel: “As galerias dos três andares no pátio interno, leves e distintas, marcam o ambiente da Casa com a tonalidade clara e jovial em que vivem as almas puras e felizes dos candidatos ao sacerdócio. A capela sóbria e recolhida, com tabernáculo do Santíssimo Sacramento e com a imagem belíssima da Virgem do Amor Divino, no nicho central”.

Galerias amplas, salão de atos, dormitórios, apartamentos para sacerdotes, salas de visitas e de aulas claras e arejadas, e tantas outras dependências... tudo estava pronto para a inauguração definitiva no dia 15 de agosto de 1956. A obra completa estava orçada em 20 milhões de cruzeiros, moeda da época; aconteceu que no final custou à Diocese 11 milhões e quinhentos mil cruzeiros, porque:

Um edifício amplo que a Caridade construiu
Porque milhares de mãos se estenderam
E milhares de mãos não se encolheram, negando,
Mas se abrindo sorrindo.
E o gesto de amor, começado continuou.
Deram mais, aqueles que mais receberam,
E deram menos aqueles que menos tinham;
Deram todos o que tinham para dar.

A revista da Diocese de Petrópolis “Ação”, nº 109, em agosto de 1956, publicando um Relatório Geral da Construção do Seminário de 1949 a junho de 1956, registrou os nomes de todos os contribuintes e benfeitores, nomes que ficarão para sempre, ainda que a revista desapareça, porque todo o gesto de amor tem um colorido de eternidade.

Em Carta Circular datada de 16 de julho de 1956, Dom Manoel comunicou aos maiores benfeitores, ao clero e ao povo em geral, que o Seminário estava pronto: convidava a todos para a inauguração final no dia 15 de agosto de 1956. Agradeceu a todos, citando os que mais colaboraram generosamente: Embaixatriz Lavínia Guimarães, Dr. Guilherme Guinle, Dr. Mário de Almeida, Carolina da Silva Ramos, Celina Guinle de Paula Machado, Dr. Júlio Cápua e Sra., Albertina da Rocha Miranda, Hortência da Silva Ramos, Dr. Arnaldo Guinle.

Referindo-se à colaboração do Clero, o Bispo Diocesano declarou “efusivos e paternais agradecimentos”. Citou alguns padres e referiu-se de modo muito especial ao Diretor da OVS Monsenhor Gentil Costa, Vigário Geral: “À frente do Revmo. Clero divisamos a figura incansável de Monsenhor Gentil Costa, nosso cirineo de todas as horas, não só nas atividades da OVS, como na campanha, já demorada da construção do Seminário. Sobre todas as benemerências que o consagraram na Igreja Catedral e na criação do Bispado, avulta por certo esta de haver atuado de modo decisivo nesta realização grandiosa”.

Sempre de coração agradecido, Dom Manoel escreveu também na referida Carta Circular: “Somos agradecidos à Firma Afonso Monteiro da Silva e Cia. Ltda. o primoroso projeto do arquiteto Dr. Oséias Otávio Vilela de Andrade e por haver supervisionado o decurso da Obra com eficiente assistência técnica. “Referiu-se também às contribuições dos Poderes Públicos: Três milhões e quatrocentos e trinta mil cruzeiros do Governo Federal, quando era Presidente o Dr. Getúlio Vargas; e oitocentos e cinqüenta e cinco mil cruzeiros do Governo Estadual, sendo Governador a Almirante Ernani do Amaral Peixoto. Assinalamos essas dotações, notando a apreço que mereceu das nossas mais altas Autoridades a construção do Seminário. “Infelizmente (escreveu Dom Manoel) não podemos dizer outro tanto dos Poderes Públicos do Município; eles desconheceram o alcance, já não dizemos espiritual e religioso, mas educacional e social do Seminário, recusando durante seis anos o menor auxílio para obras”.

Foi um desabafo, um tanto amargo, mas, sem dúvida, necessário para que não viesse a contar-se na história que o Bispo, tendo agradecido todos os colaboradores, omitira exatamente a dotação do Município de Petrópolis, o mais beneficiado com a construção do Seminário.

Na lista das pessoas que contribuíram com vultosas quantias Dom Manoel distinguiu em primeiro lugar Dona Hortência da Silva Ramos que ofereceu 865 mil cruzeiros: “que nosso Senhor abençoe tão insigne benfeitora!”

A. Inauguração Parcial

No dia 08 de dezembro de 1952, passados três anos de trabalhos, foi inaugurada a primeira parte do edifício em construção: estava pronta a cozinha, o refeitório, um dos dormitórios, algumas salas de aula, quartos para Padres, enfermaria e outras dependências. Faltava ainda mais de metade para conclusão do edifício, mas a Casa Rosa já se distinguia entre a mata de Correas como um diamante raro engastado na montanha, com acomodações suficientes para acomodar 60 alunos, que já não tinham espaço na casa doada por Dona Lavínia.

A inauguração foi surpreendentemente memorável. Compareceram os mais ilustres convidados dando-o as dimensões de alegria no coração do Bispo: o Sr. Governador do Estado Ernani do Amaral Peixoto; Sr. Ministro da Educação Dr. Ernesto Simão Filho; o Sr. Prefeito de Petrópolis Cordolino José Ambrósio; o Sr Presidente da Câmara Municipal Dr. Hélio Bittencourt; o Ex-presidente da República Marechal Eurico Gaspar Dutra; o Juiz substituto Dr. Renato Lacerda; o Promotor Dr. Serpa de Carvalho, e muitas outras pessoas notáveis do Clero e de benfeitores. Nem faltou ao Sr. Bispo a alegria de ver entre o povo os seus venerandos e afortunados pais: Desembargador Cândido da Cunha Cintra e Sra. Antonieta da Cunha Cintra.

Constituía a Festa de sessão litero-musical e de parte religiosa. Começou às 15h e terminou às 18h. Monsenhor Gentil fez o discurso de abertura, começando por citar um trecho da Carta Pastoral de Dom Manoel de saudação aos seus diocesanos: “Fiéis às normas traçadas pela Santa Sé, pretendemos, caríssimos cooperadores e diletos filhos, movimentar todas as forças vivas de nossa querida Diocese em prol desta grande causa, a causa das vocações. Queremos e esperamos confiantemente se realizem estes dois anseios de nossa alma: – despertar copiosas e santas vocações e dar-lhes na Diocese de Petrópolis um Seminário próprio, onde elas se recolham e floresçam. Certo de que haveis de ser diligentes e dedicados auxiliares nossos neste empreendimento, vamos para o vosso pastoreio levando todas as bênçãos de nossas mãos e todo o afeto de nosso coração”.

Monsenhor Gentil continuou recordando sua própria afirmação feita em discurso da abertura do Seminário, no dia 25 de março de 1949, “a grei petropolitana ouviria o apelo emocionado de seu Pastor”. Não me enganei, prosseguiu o orador, este apelo repercutiu profundamente esclarecendo inteligências, acariciando corações, movimentando vontades para a grande campanha que visava a construção deste magnífico edifício.

Para terminar o discurso, Monsenhor Gentil lembrou o lema do Bispo de Petrópolis: “In Bonitate et Veritate”... e finalizou “a luminosidade do Bem e da Verdade ensinará às gerações de seminaristas que passarem por esta Casa a alta missão do sacerdócio católico: Sal terrae et Lux mundi – Sal da Terra e Luz do Mundo!”.

A seguir, o Coral Feminino “São Pedro de Alcântara” apresentou-se com variado e suave repertório; formado por senhoras e senhoritas uniformizadas, o coral regido por Maria de Lourdes Tornaghi apresentou: Recordare, de Tescari; Cantiga de Nossa Senhora, de Hekel Tavares; e Cor Jesus, de Bottigliero. Seguiu-se o discurso do Sr. Ministro da Educação Dr. Simões Filho, que foi interrompido várias vezes pelas palmas de entusiasmo dos ouvintes. Acadêmico e religioso, o discurso do Ministro teve um trecho lapidar: “mudam-se os métodos ou as técnicas de educar, mas subsiste o caráter permanente da verdadeira educação de que a Igreja tem o segredo, porque não se restringe a transmitir conhecimentos e criar habilidades, mas visa a formar o ser humano dentro de um sistema de valores e objetivos condicionados pelos fins materiais sobrenaturais”.

Ao final do discurso, o Dr. Simões Filho dirigiu-se especialmente aos seminaristas: “Assim, da profundidade dos sentimentos com que vos falo, estudantes católicos de hoje, futuros sacerdotes, ao se inaugurar vossa nova casa de estudo, meditação e prece, podeis inferir a importância que atribuímos à vossa tarefa. Esta realização testemunha a vitalidade da Igreja no Brasil, a disposição de continuar a cumprir o magistério que assumiu desde o nascer da Pátria”.

Apresentou a seguir o coral dos pequenos cantores conhecido como “Canarinhos de Petrópolis”, dirigido por Frei Leto Bienias, OFM. Muito aplaudido o coral com vozes suaves cantou: Ave do Mar Estrela, de Carlos Gomes; Dão-dem-dão, de Lucília Vila Lobos; Concerto das Rãs, de Carl Maria von Weber; e a Caça, de autor desconhecido.

Ao encerrar a sessão falou o Sr. Bispo Diocesano: agradeceu aos colaboradores e disse de seu entusiasmo em prosseguir para terminar a construção do Seminário. Declarou sua ilimitada confiança na proteção de Nossa Senhora. Eis um trecho do discurso: “Jubilosos os agradecimentos nos transbordam do coração no momento histórico dessa festa. O Seminário, o mais acariciado sonho da Diocese é esta realidade esplendida que vemos! Inesperado ergue-se rápido, como por encanto na esplanada firme da colina de Correas; quase à semelhança do que acontece nas lendas das crianças onde as fadas fazem numa noite germinar a árvore da floresta, nascer e voar a avesinha do firmamento, aparecer e brilhar a estrela no céu. Assim o Seminário num rápido período de poucos meses levantou-se e se projetou no panorama de Petrópolis... Com evidente surpresa de todos!
Quem houve que não se surpreendesse?

A todos nos deixou atônitos: a vós e a mim. E estai certos, caríssimos diocesanos, que muito mais a mim do que a vós. O Pastor da Diocese, ele mais do que ninguém sentiu-se admirado e verificou agradecido o milagre do Seminário, este milagre que é o Milagre de Nossa Senhora do Amor Divino”.

... “E a solenidade dessa festa se vai encerrar com a coroação de uma imagem; a belíssima imagem de Nossa Senhora do Amor Divino, Padroeira do Seminário. Pensam cingir com a preciosa coroa de prata, ouro e pedras preciosas, não apenas a imagem mas ainda a fronte augustíssima da mesma Mãe de Deus, significando com essa Cerimônia a vassalagem perpétua do Seminário ao serviço e ao amor desta Mãe dulcíssima”.

Dom Manoel benzeu a imagem e a coroa, coroou Nossa Senhora e recitou um especial ato de Consagração à Mãe de Deus que vai aqui transcrito:
– “Ó Maria, Virgem poderosa e Mãe clementíssima lembrai-vos deste Seminário que de todos vos pertence.

Voltei sobre ele, nesta hora memorável um olhar de enternecida complacência. Inclinai sobre nós o vosso coração e derramai sobre nossa fronte o orvalho celeste de vossas bênçãos maternais.

De nosso íntimo bradamos a Vós, Ó Senhora do Amor Divino, renovando de maneira absoluta e irrevogável a eleição que de vós fizemos para nossa excelsa Padroeira. Repousem serenamente em vosso castíssimo regaço todos os nossos anseios, todos os nossos anelos e todas as nossas esperanças!
Foi ao calor de nossas bênçãos e sob o signo visível de vossa proteção que surgiu no alto dessa colina a esplêndida realidade do novo Seminário. Mas perto do Céu, mais junto a Vós, queremos viver perenemente sob o manto feliz de Vossas Graças.

Senhora do Amor Divino, titular e protetora desta Casa rorejai largamente vossas bênçãos sobre esta sementeira onde se cultivam as vocações da Diocese de Petrópolis. Ficai sempre conosco. Afervorai-nos, iluminai-nos, santificai-nos.
E como testemunho de nossa vassalagem de amor, queremos nesta hora solene cingir a fronte de vossa bela e sorridente imagem com esta coroa entretecida mais do coração de vossos filhos do que de ouro e pedras preciosas.

Glória a Deus Pai de quem sois, ó Imaculada, a Filha Primogênita! Glória a Deus Filho, de quem sois, ó Virgem, a Mãe estremecida! Glória a Deus Espírito Santo de quem sois, ó Senhora do Amor divino, a Esposa escolhida! Amém”.

A imagem estava colocada, para essa cerimônia, na galeria superior do edifício cuja primeira parte se inaugurava. Ali os “Canarinhos” entoavam os hinos Pontifício e Nacional. Durante a coroação, a Banda Comercial de Petrópolis, que já havia executado diversos números, tocou ainda o Hino Nacional. Por último Dom Manoel abençoou as dependências que seriam ocupadas pelos seminaristas em 1953.

B. Inauguração Definitiva

No dia 16 de junho de 1956, o Sr. Bispo Diocesano de Petrópolis divulgou Carta Circular aos seus diocesanos e a todos os colaboradores aos quais comunicava: “Esta concluído o Seminário Diocesano... Bendito seja Deus! É a primeira exclamação que brota no íntimo d’alma ao vos anunciar a inauguração de todo o edifício do Seminário no próximo dia 15 de agosto, festa da Assunção de Maria Santíssima aos Céus. Quantas e quão profusas graças devemos render à bondade divina pela realização desta obra fundamental da Diocese”.

A referida carta de Dom Manoel dizia ainda: “O Seminário, Casa de Nossa Senhora do Amor Divino, naquela moldura soberba e gigantesca das montanhas de Correas, passou a lembrar-nos uma como que pequena Jerusalem celeste, onde mora a Imaculada e a repetir-nos a expressão do Salmista: – Teve o seu início nas alturas – Fundamenta ejus in montibus sanctis”.

Chegou afinal o tão esperado dia 15 de agosto: às 15 horas toda a Diocese vibrava de entusiasmo. Correas teve movimento nunca visto: gente dos mais afastados recantos, dos mais longínquos limites do município de Três Rios aos extremos do município de Três Rios aos extremos do município de Magé, de Duque de Caxias e de São João de Meriti...

À entrada da antiga e abençoada Granja São Luís, pela rampa acima até o vestíbulo do novo edifício, balançavam festivas no ar as bandeiras do Brasil e do Vaticano. O céu azul firme, enfeitado de nuvenzinhas brancas rarefeitas, o ar diáfano da serra, a temperatura agradável, a sensação das alturas, a presença ali tão perto do pico do Alcobaça, que os antigos denominavam Belmonte e que no momento faziam lembrar os versos de Olavo Bilac nos quais o poeta chama a montanha de “sacerdotiza em prece” que reza “sobre os desertos e as areias”... “última a receber o adeus do dia, primeira a ter a bênção das estrelas”; era tudo lindo e fazia dilatar-se de alegria o coração de quem chegasse para a festa.

Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, Bispo Diocesano; Mons. Francisco Gentil Costa, Vigário Geral; Padre José Fernandes Veloso, Reitor do Seminário; Mons. Luís Geraldo Amaral Melo, Diretor Espiritual, todos felizes recebiam os convidados mais ilustres, enquanto a multidão de colaboradores das OVS ocupava todo o espaço à frente e ao redor do edifício.

No pátio externo, a Banda de Música do 1º B. C. de Petrópolis executava, garbosamente, números escolhidos. Padre Gilberto Ferreira de Souza, que foi o primeiro Reitor do Seminário e que o viu nascer, veio de Niterói; conhecedor da história da Casa, ocupou o microfone do serviço de alto-falantes ali instalados e manteve a atenção do povo, discorrendo sobre o que representa o Seminário para a Diocese. Os venerandos pais do Sr. Bispo vieram de São Paulo compartilhar das alegrias do filho apóstolo do Senhor.

Eclesiásticos, autoridades Civis e militares, pessoas gradas, senhoras e senhores da sociedade petropolitana compareceram jubilosos: Monsenhor Ferrofino, representante do Sr. Núncio Apostólico: Monsenhor Uchoa, representante do Sr. Bispo de Niterói; Cônego Ávila, Reitor do Seminário do Rio; Monsenhor Luís Gonzaga, Reitor do Seminário de São Roque (SP); Padre Jair do Val, Reitor do Seminário de Aparecida (SP); Padres Professores do Seminário Diocesano; Padres Religiosos de todas as ordens existentes em Petrópolis; Padres Diocesano de Petrópolis, do Rio e de São Paulo; Religiosas das mais diversas Congregações.

Entre Autoridades destacou-se a presença do Dr. Rubens Falcão, Secretário de Educação e representante do Sr. Governador do Estado do Rio de Janeiro; Dr. Mário Pinheiro, Vice-Prefeito de Petrópolis e Representante do Sr. Prefeito; Dr. Orlando Carlos da Silva e Dr. Renato Lacerda, Juizes de Direito da Comarca; Cel. Manoel Mendes Pereira, Comandante do 1º B. C.; Príncipe Dom Pedro Gastão e Princesa Dona Esperanza; Brigadeiro Eduardo Gomes; Dr. Guilherme Guinle; Deputado Jaime Justo; Dr. Arthur de Sá Earp Netto, Reitor das Faculdades Católicas de Petrópolis; Desembargador Aloíso Maria Teixeira, Diretor da Faculdade Católica de Direito e Dr. Paulo Bretz, Delegado de Petrópolis.
Entre muitas senhoras e senhoritas da alta sociedade estava a Exma. Sra. do Governador Miguel Couto Filho, Senhoras Patronesses e Legionárias, que tanto se empenharam pela construção do Seminário.

À hora marcada – 15 horas – acompanhado de seu secretário Cônego Bessa, chegou o Exmo. Sr. Cardeal Dom Jaime de Barros Câmara, Arcebispo do Rio de Janeiro, a quem caberia dar a benção litúrgica ao edifício; foi ele quem benzeu a “Pedra Fundamental” do Seminário, e agora dava a Petrópolis a alegria de voltar a Correas para a benção de todo edifício e para cantar com toda a Diocese o “Te Deum”, na capela.

Dando início às cerimônias da inauguração, na sessão lítero-musical, cuja mesa da presidência fôra armada na galeria externa do prédio, discursou o Sr. Bispo Diocesano Dom Manoel frisou em todo o seu discurso que se inaugurava uma obra da Divina Providência, e que diante de Deus, mais vale o silêncio da prece que os discursos. Se falava na ocasião, prosseguiu, era para orar com todos os presentes rendendo graças ao Senhor, E o Sr. Bispo mais uma vez, agradeceu efusivamente a todos os benfeitores do Seminário.

A seguir foi dada a palavra ao Sr. Secretário de Educação Dr. Rubens Falcão, que em breves palavras congratulou-se com a Diocese, especialmente com o senhor Bispo, pela inauguração do Seminário, casa de cultura e de formação sacerdotal. Terminados os aplausos ao orador, Monsenhor Gentil leu ao microfone com maior entusiasmo, o paternal telegrama que o Santo Padre Pio XII enviou ao Sr. Bispo congratulando-se com ele e dando a dom Manoel e a todos os seus Diocesanos a Benção Apostólica. Nesse momento, o coro dos seminaristas de Petrópolis entoou a “Ave Maria”.

Pouco antes das 17 horas, o Sr. Cardeal Câmara dirigiu-se para a capela que iria benzer; simultaneamente, quatro sacerdotes dariam a benção a todo o edifício; foram eles: Monsenhor Galdino, Pároco da Catedral; Cônego Fabiano, O Prdem, Confessor dos seminaristas; Frei Aniceto, OFM, Pároco do Sagrado Coração de Jesus; Padre Luiz Monteiro, Pároco de Cascatinha.

Terminada a benção da capela foi cantado o “Te Deum” por todos os presentes, e finalizando, o coral dos “Canarinhos de Petrópolis”, dirigido por Frei Leto executou o canto de Ação de Graças “Magnificat”.

A multidão de pessoas que ocupou todos os espaços à frente e por todos os lados do edifício foi um espetáculo colorido na festa. Apresentava uma gema de variadas cores, como que num gigantesco caleidoscópio de bizarras combinações surgidas ao acaso. Vestes, bandeiras, insígmas religiosas, hábitos de freiras, uniformes de Filhas de Maria e de Cruzados da Eucaristia e dominando nos ombros do povo, as fitas cor-de-vinho dos sócios da Obra das Vocações. Particularmente distinguia-se pela singularidade a “corneta branca”, ao tempo ainda em uso pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo; vinte ou trinca “cornetas brancas” desenhavam entre o povo da festa um vergel de lírios e alertavam a todos de que tudo quanto se eleva coroa-se de branco.

Estando todo o Seminário abençoado, todos os presentes, autoridades e povo foram convidados a percorrer em companhia de Dom Manoel as dependências do edifício; circularam alegremente pelas galerias da majestosa Casa de Nossa Senhora do Amor Divino. Para findar a festa foram todos convidados a participar da mesa de doces, salgadinhos e refrigerantes.

Nesses momentos de “mistérios gloriosos” para a vida do Fundador, por ocasião da festa de 15 de agosto, faltou uma alegria, que veio poucos meses depois. No dia 4 de março de 1957, o Sr. Núncio Apostólico Dom Armando Lombardi visitou o Seminário e almoçou com Dom Manoel, Monsenhor Gentil, Padre José Veloso (Reitor), outros Sacerdotes e todos os Seminaristas. Pouco tempo depois, o Sr. Núncio foi a Roma e lá informou à Sagrada Congregação dos Seminários sobre as proporções e configurações do Seminário Diocesano de Petrópolis. Então Dom Manoel experimentou mais uma grande alegria; recebeu carta do Cardeal Pizzardo, Prefeito da Sagrada Congregação dos Seminários congratulando-se com o Bispo de Petrópolis e afirmando: “Uniram-se em bela harmonia as exigências práticas, resultantes de uma sábia e funcional distribuição dos ambientes, à mais estrita observância das normas de arte, surgindo daí um complexo arquitetônico digno da melhor tradição artística no campo da construção eclesiástica”.

C. Jubileu de Fundação

No dia 25 de março de 1999, o Seminário completou 50 anos de fundação. Dom Manoel já havia completado 92 anos de idade, sua saúde já era precária, e com certeza Deus conservou-lhe a vida até esta data para a celebração festiva que viria a ser sua última alegria na vida terrena.

Amparado por um jovem sacerdote, Dom Manoel paramentou-se para celebrar a Santa Missa de Ação de Graças com o Sr. Bispo Diocesano Dom José Carlos de Lima Vaz. Concelebraram também na ocasião dois outros bispos: Dom Alano Maria Pena, Bispo Diocesano de Nova Friburgo e Dom José Fernandes Veloso, antigo Reitor e Bispo Emérito de Petrópolis desde 1996.

O programa festivo de celebração dos 50 anos da Casa de Nossa Senhora do Amor Divino foi preparado para a parte da manhã de 25 de março: nesta ordem: Missa Solene de Ação de Graças; apresentação de vídeo recordando a história da Casa (nesse pequeno filme aparece Dom Manoel rezando diante da imagem do Amor Divino na igreja Matriz de Correas, onde está a primitiva imagem da devoção local, aí Dom Manoel recorda e conta a sua primeira visita a Nossa Senhora, para pedir-lhe que o ajudasse a cumprir a ordem do Papa - construir o Seminário). A seguir foram inauguradas duas placas comemorativas: uma oferecida pelo Serra Clube (em letras douradas), outra pela Associação dos Antigos Alunos: serão, para sempre, mudas testemunhas das festividades jubilares.

O coral dos “Canarinhos” prestou sua colaboração; participou também um grupo de cantores jovens, com excelente serviço de som. Grande número de pessoas compareceu à brilhante comemoração.

Dom Manoel já havia falecido, a 30 de março, cinco dias depois de haver celebrado sua última Missa. Assim como ocorreu no dia 15 de agosto de 1956, no dia 2 de maio de 1999, logo após a Missa abriram-se as propostas do Seminário e a todos os convidados foi servido o lanche.

Em meio a alegria estampada na face de todos os verdadeiros amigos do Seminário, nas festas jubilares, a todos parecia ecoar suavemente pelas galerias a frase predileta de Dom Manoel: “O Seminário é um Prodígio de Nossa Senhora!”. Essa frase repetida com freqüência pelo Fundador do Seminário, essas palavras de carinho e agradecimento à Mãe de Céu ficram como testamento espiritual de louvor à Nossa Senhora do Amor Divino.

ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DO DIVINO AMOR

Ó Maria, Virgem Imaculada, mãe de Deus e nossa, ó Mãe do Divino Amor, a ti elevamos as nossas suplicas esperando alcançar as graças que necessitamos.
Tu que mereceste a saudação: "Chela de graça", tudo nos podes alcançar. Simo, ó Maria, realmente és cheia de graça, porque o Espirito Santo, teu celestial Esposo, com seu Divino Amor, abriu em ti a sua morada: desde o momento da concepção preservou-te de toda culpa e te conservou imaculada. De novo retornou a ti no dia da Anunciaço, fazendo de ti a Mãe; no dia de Pentecoste, pousou sobre ti com seus sete dons e te fez guardiã e fonte das divinas graças.
Elia pois, ó doce Mãe do Divino Amor, as nossas suplicas: concede a paz ao mundo, faz tiunfar o teu amor, protege o Papa, reune na unidade perfeita todos os cristaos, ilumina com a luz do Evangelho todos os que ainda não crèem, converte os pecadores, dà-nos a coragem do arrependimento constante e força para vencer as tentações, ilumina a nossa mente para seguirmos sempre o caminho do bem, e finalmente, quando Deus nos chamar abrenos as portas dio céu.
E enquanto gememos e choramos neste vale de lágrimas, soccorre-nos em nossas necessidades e conserva em nós o amor diante dos inevitáeis sofrimentos da vida. Cura ó Mãe das graça as nossas enfermidas. Concede a saùde aos teus devotos, liberta ó Maria, das penas do purgatório os fiéis defuntos, especialmente os que foram recomendados às arações do Santuário e as vítimas das guerras. Olha com materna bondade e protege as obras do Divino Amor. E a nós, teus filhos, concede-nos ó doce Mãe louvar-te sempre. Que nosso coração arda sempre do amor de Deus nesta vida para gozar eternamente contigo no céu. Amém.

Nota: Os donos do Hotel D. Pedro I, Antonio Machado e sua mulher, foram os principais entusiastas promotores da nova Igreja. Eles doaram o altar e a imagem de Nossa Senhora que ainda estavam na velha capelinha da Fazenda, originais.

Fonte:
Antonio Machado - Trabalhos da Comissão do Centenário de Petrópolis, 1941, volume. IV, pgs. 49 a 60.

 

Compartilhar

| Imprimir | PDF 

Back to top

Copyright © Comunidade Sião 2024

Template by Joomla Templates & Szablony Joomla.